Entre um vôo e outro
Deu graças a Deus quando soube que este fim de ano não haveria greve nos aeroportos. Havia decido viajar em cima da hora, mas mesmo assim conseguiu um bom vôo. Uma pequena parada em Brasília e logo estaria nas praias do Nordeste. O avião que o levou até a capital do país partiu sem atraso. Realmente, ele não tinha do que reclamar.
Quando já via a geometria de Brasília pela janela do avião, quis conferir onde havia deixado o bilhete para embarque da conexão. Assustou-se quando não o encontrou em lugar nenhum. Mas tentou manter a calma e lembrou-se que tinha meia hora entre um vôo e outro. Podia conseguir um bilhete novo nesse intervalo. Desembarcou apressadamente.
Encontrou um agente da companhia aérea cercado de pessoas que queriam resolver seus pepinos. Teve que esperar a vez de contar o seu. O agente disse que logo voltaria com um novo cartão. Só que demorou alguns minutos. Quando recebeu o bilhete, saiu correndo na direção do portão de embarque. Chegou lá e adivinha: o avião havia acabado de sair.
Foi encaixado em um vôo dali a duas horas. Era o jeito.. Mas passaram-se duas horas, passaram-se três horas e veio um aviso óbvio de que o vôo estava atrasado. Os passageiros começaram a reclamar e a exigir o lanche obrigatório. A empresa dava uma desculpa qualquer para não alimentar ninguém. Até que alguém contou: não havia tripulação suficiente.
Ânimos se exaltaram. Listas de e-mails circulavam e uniam os passageiros. Lá fora escurecia. Depois de um bom tempo avisaram que já havia tripulação. Todos suspiraram aliviados. Mas infelizmente encontraram uma falha mecânica na aeronave e estavam consertando. Gritos indignados agitavam o saguão. Não faltava muito para o confronto físico.
Com quatro horas de atraso, o avião finalmente levantou vôo, e todo mundo se lembrava muito bem de que ainda há pouco ele havia tido uma falha mecânica. Já era quase madrugada quando ele enfim pousou no Nordeste – sob intenso aplauso dos passageiros.