VIDA DE GENTE

-Maria, aonde você vai?

-Vou ao salão de beleza cortar as minhas madeixas, meu bem.

No caminho, encontrei o meu ex-catequisando com seu cachorrinho.

-Bom dia, Juliano!

-Bom dia, tia!

-Como é o nome dele?

-Zeca.

-Ah, não! Zeca é o apelido do meu filho.

-Tia, quando a catequese recomeça?

-Na segunda semana de fevereiro. Tchau.

-Meu Deus! –pensei. Nunca vi um bebê engatinhando numa calçada tão suja! Ele pega as coisas no chão e põe na boquinha. Sua mãe, magérrima, nem está aí. Tão desolada, parece que está fora de órbita. Milagrosamente, a criancinha é saudável e risonha.

Que cachorro bonito!

-É uma menininha.

-Como ela se chama?

-Marilza. Coloquei-lhe o meu nome.

-É brava?

-Não. Peguei-a na rua e, por isso, ela vai com todo mundo. É o nosso xodó. Dorme conosco, sabia? É um doce de menina. Só falta falar.

No salão de beleza.

-Bom dia, Mariene. Meu sonho é ter um cachorrinho que me ame como o Bob te ama.

-Bobinho é meu amigão e não me larga. Aonde vou, ele vai atrás.

Um flanelinha brincou da janela.

-Bob, você quer pão?

-Obrigada. Ele não pode comer nada. Está com gastrite.

-Você gasta muito com veterinário?

-Não! Meu amorzinho tem plano de saúde, mas só ficou internado uma vez, com inflamação no ouvidinho.

-Seu animal de estimação não tem nome de gente, mas tem vida de gente. Você precisa ver um bebezinho levando uma vida de cachorro, ali na padaria.

Tchau, Mariene.

-Tchau. Bob, dá um tchauzinho para a vovó.