Introdução A Uma Viagem No Tempo

Introdução a Uma Viagem No Tempo

Quantos viram um disco voador ou sabem que foram abduzidos e guardam silêncio?

Então, para falar sobre o inexplicável, é preciso ultrapassar uma barreira.

Um amigo meu, que não tem nada de doido, me afirmou que foi abduzido. Olhei-o estarrecido e fiz grande esforço para disfarçar o meu espanto. A primeira ideia que me veio à mente é que não mais estava batendo bem da cabeça, coitado! Mas ouvi-o com paciência; fiz algumas perguntas e ele me respondeu em detalhes, tim tim por tim tim. Está louco? Não sei. O que sei é que a mente humana expande-se, ultrapassa os limites do ego, do espaço, do tempo e abre para si mesma horizontes inimagináveis.

Quando um indivíduo qualquer se convence que está vivendo no seu dia adia um “reality show”, como vem ocorrendo em inúmeros casos ultimamente, amplamente noticiados, sabemos que está em surto, apesar de viver uma vida aparentemente normal - nós sabemos de sua loucura , ainda que ele não saiba, e por isto é absolutamente inocente, e verdadeiro. Não desconfia que aquela sensação é fruto de sua mente descompensada. Ou se desconfia, não entende o que se passa com ele e nem sabe como controlá-la.

Bom, isto pode estar acontecendo comigo, não tenho como saber nem como negá-lo. Ao dizer que me transporto no espaço e no tempo, sei que estou provocando no leitor o mesmo espanto que o meu amigo abduzido provocou em mim. Mas nesta altura da vida, isto já não me importa.

O que vale para mim, no caso, é afirmar que não vejo nestes “transportes”, ou nestas experiências “trans-pessoais”, ou “fora do corpo” como dizem os que estudam estes fenômenos, uma “criação” minha. Eu não imagino, eu “vejo”, “ouço e “vivo”. E sinto o meu corpo e a realidade que me cerca com a mesma sensação que estou vivendo ao escrever estas linhas. Provavelmente, apesar de me sentir em “carne” e “osso” nestas situações, sei que provavelmente as “viva” dentro da mente , como o compositor que, mesmo surdo, como no caso de Beethoven, “ouve” a música surgindo em sua mente como se estivesse sendo tocada por uma orquestra diante dele. O que não impede que a mente seja uma antena que capta coisas que estão além dela , e se manifestam através dela, o que nos leva a pensar que a realidade que se manifesta é obra dela, quando na verdade não é. Mas aí entramos no campo da espiritualidade, diverso do que estou abordando aqui.

Na última vez fui para dois mil anos atrás na linha do tempo, eu que estou vivendo agora enquanto escrevo dois mil anos depois dos eventos que presenciei; nestes níveis de atividade mental, o passado e o futuro perdem todo o sentido, e ficam relativizados, todos no “presente”. No “passado”, sonhava com dias distantes no “futuro”, que é o meu atual “presente”, no nível de consciência em que estou neste momento; e tudo o que ocorreu naquele “passado” foi vivenciado com a sensação do “presente”.

Santo Agostinho afirmava que só existe o ilusório presente, fugaz e totalmente imensurável, em sua passagem; a memória das coisas passadas ocorre no presente e o desconhecido futuro ainda está por vir e, quando vem, transforma-se imediatamente em memória das coisas passadas, posto que o presente é intangível. Isto quer dizer que, sob esta ótica, jamais poderemos ir ao passado, apenas lembrar-nos dele, e muito menos ao futuro, que nunca aconteceu e que só se concretiza no presente que imediatamente se transforma em passado. Uma dedução lógica, já que tudo se passa no presente, o que nos parece o absurdo dos absurdos, mas talvez não seja, se olharmos para o caminho inverso: a memória das coisas passadas é “trazida” ao presente; nós não vamos a ela, ela vem a nós. Daí minha afirmação de que tudo aconteceu no presente, no sentido lato do termo, já que, no sentido mais estrito, o presente nos escapa a todo instante. Quem pode dizer que viu “passar” um milionésimo de segundo? E o que é um milionésimo de segundo se comparado a um bilionésimo de segundo?

Para mim o que vivi não foi um sonho e muito menos um surto. No sonho vivo situações simbólicas, interligadas por uma lógica oculta que tenho que desvendar; deparo-me com o absurdo, ainda que perceba após algum esforço que aquilo tudo tem um sentido, às vezes muito rico, apesar do disfarce; e estou inconsciente enquanto sonho, pois é exatamente o inconsciente que emerge enquanto sonho; no surto, além do enorme sofrimento que o acompanha, inclusive dada a nossa incompreensão em relação a ele, deparamo-nos com o caos, e não há nada de caótico no que vivo.

Tudo é tão normal, tão nítido e real quanto vivo neste momento.

Não cabem aqui tentativas de explicações ou teorizações, porque me afastaria demais de meu propósito. Tenho até minhas teorias a respeito, e delas trato em outro texto. Direi apenas, como uma forma de elucidação, que sinto que passei por algo como uma experiência de viagem astral, ou como se fosse através da hipnose. É claro que, durante toda a minha vida algo muito forte, mesmo quando não totalmente percebido, me levou a isto. É como se um grande enigma me atormentasse o tempo todo sem que eu tivesse a menor ideia do que fosse. Tive que me defrontar com o próprio enigma para que de certa forma fosse resolvido. Vejo assim neste momento, mas quando ocorreu, ocorreu espontaneamente, como se fosse um sonho, apesar de não ter sido.

Minha sensação é que minha consciência descortinou o espaço-tempo, navegando em outra dimensão, que é a dimensão na qual vivemos realmente, mas não percebemos , limitados que somos pelos sentidos, que nos condenam à enganosa sensação que o espaço e o tempo são dimensões diversas . Esquecemo-nos que este nosso mundo é tão limitado para nós como é o mundo aquático para os peixes, que vivem sem desconfiar que exista a terra, o céu e as estrelas.