Senhor G.
Da janela do ônibus azul, o azul fora dela me fitava, como se sobre mim soubesse de segredos de sangue, segredos de morte. Olhava, enquanto a brisa lembrava da minha última carta de despedida. Quando a escrevi não tinha muita convicção do que estava posto, do fim, porque nunca aceitamos o fim. O fim é também a inexistência de porquês, sem porque não caminhamos, não lutamos, não há sofrimento nem glória.
Mas lembrei, não de seu rosto, dos seus beijos com gosto de cigarro menta, do seu olhar preto melancólico, das suas mãos super brancas me acariciando o braço, das nossas duas noites como um, colados como siameses, como se o mundo fosse acabar, a emergência que tínhamos um do outro, a urgência, o breve.
Lembrei na verdade de todos os sentimentos que você provocava em mim- a cólera- a embriaguez-o desejo dionisíaco- o amor próprio. Pena que foi, é e continuara a ser assim. Nada mais do que uma memória turva, inventada com futuros que nunca viverei.