Sete Homens
Os meus irmãos homens, todos mais velhos que eu e num total de sete, tinham calças boca de sino com nesgas coloridas, camisas volta ao mundo e os cabelos black power mais pavorosos do universo! As fotos antigas provam o que estou dizendo.
Dizem as más línguas que os mais velhos usaram até sapatos de salto, com pregos e tampinhas no solado para fazer mais barulho, mas eles negam que isso seja uma verdade.
Calças,em tergal,com boca de sino,eram o top dos tops e a tal camisa volta ao mundo era um luxo! O que os anunciantes não informavam é que a camisa guardava uma inhaca violenta de suor no tecido sintético de que era feita, o nylon. So diziam que não dava trabalho pra passar... Claro, qualquer calor as derretia!
Para pentear as jubas e desemaranhar os fios, meus irmãos usavam uma espécie de tridente, feito com raios de bicicleta fincados em um pedacinho de madeira que se encaixava perfeitamente na mão do cabeludo. Parecia ser um instrumento de tortura e era chamado de ouriçador. Levanta aqui, amassa ali e a cabeleira de pé ia tomando a forma de um capacete de astronauta. Pronto! Estavam lindos! So que não...
As noites eram prenhes de medo. O escuro, o desconhecido, as histórias de Vó Nhá-nhá sempre apinhadas de mistérios, fantasmas e assombrações. Um dia ouvi sobre os lobisomens, cuja lenda dizia se tratar de uma maldição que recaía sobre o sétimo filho homem da família, o qual, a partir dos 13 anos se transformaria em uma fera semelhante a um lobo, nas noites de lua cheia.
O meu grande medo era que o caçula dos meus irmãos virasse um lobisomem.
Nunca soube que a lenda se confirmasse por estas terras, mas agora que ele vive em terras catarinenses, prontifico-me a ficar atenta aos noticiários.