Expansão

Aos olhos de uma criança tudo se expande. Os adultos são grandes demais, o natal demora demais pra chegar, a noite é escura demais, as missas são longas demais... Já a infância não. A infância tem a exata medida da incompreensão do tempo e quando percebemos, os adultos são menores que nós, o natal chega sem que houvéssemos retribuído os cartões do natal passado, as noites são cada vez menores, as missas continuam longas...

Juro que um dia vi minha avó crescendo, de pé, na soleira da porta! Minha mãe ria disso e dizia que, certamente, a vó estava apoiada em um dos pés e se endireitou no exato momento em que eu olhava pra ela por entre as flores coloridas de seu jardim. O fato é que a visão me assustou, pois ela tinha mais de 1,80 m de altura e pareceu-me agigantar-se ainda mais.

Tinha ido ao mercadinho do Sr. Claudionor comprar repolho e Vó Dora indagou da porta o que eu trazia na sacola, emendando a seguir: to enfarada de repolho! Não compreendi naquele instante o que era estar enfarada, mas de estar assustada eu entendi muito bem. Minha avó crescia diante dos meus olhos assustados! À tarde eu já estaria enfarada de tanto pensar no assunto.