Das Fitas e Cores
Minha irmã mais velha sabia entoar o oficio de Nossa Senhora e era integrante da “Pia União das Filhas de Maria”. Chamava-se Maria também.
O ofício, que é um ato de louvor e agradecimento à Virgem Maria, Mãe de Deus, pela sua Imaculada Conceição (dogma da Igreja proclamado em 08/12/1854 pelo papa Pio IX) Dizia a minha irmã que , ao ser entoado o Ofício da Imaculada, Nossa Senhora se ajoelhava no céu! Coisa linda de e imaginar, mas eu tinha era dó de Nossa Senhora ajoelhada por tanto tempo, pois o ofício era rezado e cantado por minha irmã sempre aos sábados e demorava pra caramba!
Maria – a minha irmã - usava vestido branco na procissão e uma fita azul de cetim sobre a alvura de suas roupas sem nenhum amarrotado! Isso sim, coisa linda de se ver! Às vezes, eu queria usar a fita dela, via aquilo como um acessório, tipo um colar... E eu não tinha colares! Talvez seja essa a origem de hoje andar enfeitada como a mulinha, madrinha da tropa!
Sorrateiramente surrupiava aquela fita, que comumente me era inacessível, de dentro de pote tipo porta-jóias de minha irmã, que ficava em cima da cômoda. Cheirava bem aquela fitinha! Já se grudara nela o cheiro do perfume que minha irmã usava! Esparramava com gosto a fita azul pelo pescoço!A medalhinha vinha quase aos joelhos... Então era advertida de que ainda tinha que esperar alguns anos e que primeiro teria que passar pelo grupo dos Santos Anjos e somente depois viria a ser “aspirante à filha de Maria”, quando passaria, por fim, a usar uma fita verde, antecessora da linda fita azul que minha irmã possuía. Enquanto isso a fita cheirosa voltava ao seu relicário.
Esperar alguns anos... Santos Anjos... Aspirante ? Tempo demais pra uma garota com cerca de 3 ou 4 anos esperar. Eu nem gostava da cor verde!
Não aspirei mais ao uso. Nasci filha de Maria e pronto!