Quando criança, no caminho de casa em direção à escola, sempre me deparava com uma cena intrigante;
No alto de um morro eu conseguia ver uma figura estranha, o qual ficava praticamente o dia todo sentado em frente a um pé de Jequitibá, fitando-o durante todo o tempo. Esta pessoa só se recolhia nos momentos de fazer suas refeições, e à noite para descansar.
Sempre que eu perguntava para meus pais, meus amigos ou outras pessoas sobre o que aquele moço fazia lá todos os dias, todos me respondiam a mesma coisa, que ele era um pobre louco, que tinha esta mania.
Bom, o tempo passou. Cresci, me casei e mudei para outro lugar. Anos mais tarde, decidi fazer uma visita à minha cidadezinha natal, andar pelos lugares onde vivi minha infância, rever velhos amigos e conhecidos.
Me disseram que a escola onde estudei o ensino básico, ainda estava em funcionamento e decidi então ir até lá rever o local onde passei boa parte de minha infância. Porém, durante o caminho, eis que tive uma enorme surpresa: igual os tempos de outrora, levantei meus olhos para o alto do morro e, para o meu espanto, a mesma figura emblemática, agora visivelmente mais velho, se encontrava no mesmo lugar, fitando o mesmo pé de Jequitibá.
Ora, desta vez não contive minha curiosidade. Agora já adulto, decidi averiguar por mim mesmo o motivo que movia aquela pessoa viver tão duradoura rotina (acho que nem um louco aguentaria tanto!).
Subi o morro e aos poucos me aproximei do estranho. Ele vestia uma roupa de cor um pouco amarronzada e bem surrada, parecia mais uma túnica. Tinha uma barba bem grande e branca, assim como seus cabelos eram grandes e brancos. Me aproximei dele e em momento algum o indivíduo tirou os olhos do Jequitibá para averiguar quem era o estranho que chegara perto dele.
Após ficar por uns instantes observando aquela figura estranha, decidi quebrar o silêncio e lhe disse:
- Bom dia senhor, tudo bem?
O velho calmamente girou seu pescoço em minha direção, olhou-me nos olhos e respondeu com uma voz firme e rouca:
- Para o dia ser realmente bom, dependerá do que você vai fazer para que ele assim o seja. Se você pelo menos tentar, então já é um bom dia.
Fiquei meio pasmado com a resposta que ele me deu; me pareceu uma resposta estranha vindo de tal figura, porém, fazia sentido o que ele disse. Como não senti perigo na reação do dito cujo, então fui direto à questão pela qual eu tinha ido até lá em cima para elucidá-la:
- Caro senhor, você não deve se lembrar de mim, mas eu me lembro do senhor desde quando eu era criança. Sempre que eu ia à escola, eu o via aqui, neste mesmo lugar, sentado, olhando para o mesmo pé de Jequitibá. Não quero ser intrometido, mas vim movido pela curiosidade em saber o motivo dessa sua rotina?
O velho respondeu:
- A curiosidade, se não for utlizada para fazer o mal às pessoas, ela pode servir de combustível para transformar o mundo! Você veio aqui não só movido pela curiosidade em si, mas sim movido por um questionamento: você veio solucionar o mesmo questionamento que todas as demais pessoas da cidade também gostariam de solucionar. Porém, você teve coragem e subiu o morro! As demais pessoas preferiram ficar lá embaixo, no comodismo de suas vidas e julgar a questão cada qual à sua maneira. Preferiram passar todos esses anos a me chamar de louco do que gastarem alguns minutos de suas vidas vindo aqui, para averiguarem com seus próprios olhos.
Eu nem sabia o que responder! só fiquei ali parado, ouvindo-o:
- Eu na verdade sou um monge. O que me move é a busca pela sabedoria. Quando terminei meu período de aprendizado no mosteiro o qual pertenço, eu e meus irmãos noviços precisávamos, cada qual, cumprir uma tarefa para sermos considerados de fato, merecedores da Sabedoria.
Então lhe perguntei:
- Mas qual foi sua tarefa?
Ele respondeu:
- Meu superior me deu a tarefa de acompanhar o crescimento de um pé de Jequitibá, até o dia em que ele morrer. Nessa época, eu tinha vinte anos de idade. Saí do mosteiro e andei errante até achar esse pé de Jequitibá o qual vemos agora. Preferi este por ele ser muito novo ainda quando o encontrei. Hoje tenho setenta anos de idade e a cinquenta observo este Jequitibá.
Caramba!! Pensei comigo. Mas que Superior mais cruel, como pôde determinar uma tarefa dessas para o pobre rapaz? Todo mundo sabe que o Jequitibá pode viver por séculos e até milênios. Como ele poderá cumprir esta tarefa e um dia voltar para o Mosteiro?
Então, lapidei meus pensamentos e fiz a seguinte pergunta ao monge:
- Meu caro amigo, mas como você irá cumprir sua tarefa e ter o apreço de seus irmãos e superiores, ou alcançar a Sabedoria, se você tem que observar um pé de Jequitibá até ele Morrer? O Jequitibá pode viver por muitas vidas de um homem!
O monge serenamente me olhou e me perguntou:
- Será que um homem, durante sua vida, encontrará respostas para todas as questões que ele encontrar?
Eu respondi:
- Creio que não.
O monge continuou:
- Então, nem meu superior e nem eu somos tão ingênuos ou desinformados para não sabermos que jamais eu conseguirei ver o completo desenvolvimento deste Jequitibá, até sua morte natural. Porém, a diferença é que, será que alguém já pensou em observar um pé de Jequitibá até ele morrer, para averiguar se ele vive tanto tempo assim? Ninguém! Todos preferem se acomodar e não querem saber se o conhecimento que nos é transmitido é verdadeiro ou não. Poucos tem a boa vontade de subir o morro e averiguar uma questão, assim como você fez. As pessoas, de um modo geral, são cabeças-duras e preferem julgar do que constatar. A sabedoria, meu caro, não está somente nas respostas corretas aos questionamentos, mas, a partir do momento em que você se coloca a caminho na tentativa de resolvê-las, mesmo que você não encontre a resposta correta durante sua vida, a tentativa já lhe tornará um sábio.
Atônito, respondi:
- Nossa, nunca havia pensado nessas coisas por este ângulo! Creio que você já possa voltar para seu mosteiro, pois você já encontrou a sabedoria!
Ele me respondeu:
- Tudo o que aprendi na vida, aprendi observando o Jequitibá durante este meio século. Não vejo meus irmãos monges e meus superiores durante todos esses anos, mas sei que enquanto eu estiver aqui, observando este Jequitibá, eles saberão que cumpri minha tarefa e meus superiores saberão que alcancei a sabedoria...
No alto de um morro eu conseguia ver uma figura estranha, o qual ficava praticamente o dia todo sentado em frente a um pé de Jequitibá, fitando-o durante todo o tempo. Esta pessoa só se recolhia nos momentos de fazer suas refeições, e à noite para descansar.
Sempre que eu perguntava para meus pais, meus amigos ou outras pessoas sobre o que aquele moço fazia lá todos os dias, todos me respondiam a mesma coisa, que ele era um pobre louco, que tinha esta mania.
Bom, o tempo passou. Cresci, me casei e mudei para outro lugar. Anos mais tarde, decidi fazer uma visita à minha cidadezinha natal, andar pelos lugares onde vivi minha infância, rever velhos amigos e conhecidos.
Me disseram que a escola onde estudei o ensino básico, ainda estava em funcionamento e decidi então ir até lá rever o local onde passei boa parte de minha infância. Porém, durante o caminho, eis que tive uma enorme surpresa: igual os tempos de outrora, levantei meus olhos para o alto do morro e, para o meu espanto, a mesma figura emblemática, agora visivelmente mais velho, se encontrava no mesmo lugar, fitando o mesmo pé de Jequitibá.
Ora, desta vez não contive minha curiosidade. Agora já adulto, decidi averiguar por mim mesmo o motivo que movia aquela pessoa viver tão duradoura rotina (acho que nem um louco aguentaria tanto!).
Subi o morro e aos poucos me aproximei do estranho. Ele vestia uma roupa de cor um pouco amarronzada e bem surrada, parecia mais uma túnica. Tinha uma barba bem grande e branca, assim como seus cabelos eram grandes e brancos. Me aproximei dele e em momento algum o indivíduo tirou os olhos do Jequitibá para averiguar quem era o estranho que chegara perto dele.
Após ficar por uns instantes observando aquela figura estranha, decidi quebrar o silêncio e lhe disse:
- Bom dia senhor, tudo bem?
O velho calmamente girou seu pescoço em minha direção, olhou-me nos olhos e respondeu com uma voz firme e rouca:
- Para o dia ser realmente bom, dependerá do que você vai fazer para que ele assim o seja. Se você pelo menos tentar, então já é um bom dia.
Fiquei meio pasmado com a resposta que ele me deu; me pareceu uma resposta estranha vindo de tal figura, porém, fazia sentido o que ele disse. Como não senti perigo na reação do dito cujo, então fui direto à questão pela qual eu tinha ido até lá em cima para elucidá-la:
- Caro senhor, você não deve se lembrar de mim, mas eu me lembro do senhor desde quando eu era criança. Sempre que eu ia à escola, eu o via aqui, neste mesmo lugar, sentado, olhando para o mesmo pé de Jequitibá. Não quero ser intrometido, mas vim movido pela curiosidade em saber o motivo dessa sua rotina?
O velho respondeu:
- A curiosidade, se não for utlizada para fazer o mal às pessoas, ela pode servir de combustível para transformar o mundo! Você veio aqui não só movido pela curiosidade em si, mas sim movido por um questionamento: você veio solucionar o mesmo questionamento que todas as demais pessoas da cidade também gostariam de solucionar. Porém, você teve coragem e subiu o morro! As demais pessoas preferiram ficar lá embaixo, no comodismo de suas vidas e julgar a questão cada qual à sua maneira. Preferiram passar todos esses anos a me chamar de louco do que gastarem alguns minutos de suas vidas vindo aqui, para averiguarem com seus próprios olhos.
Eu nem sabia o que responder! só fiquei ali parado, ouvindo-o:
- Eu na verdade sou um monge. O que me move é a busca pela sabedoria. Quando terminei meu período de aprendizado no mosteiro o qual pertenço, eu e meus irmãos noviços precisávamos, cada qual, cumprir uma tarefa para sermos considerados de fato, merecedores da Sabedoria.
Então lhe perguntei:
- Mas qual foi sua tarefa?
Ele respondeu:
- Meu superior me deu a tarefa de acompanhar o crescimento de um pé de Jequitibá, até o dia em que ele morrer. Nessa época, eu tinha vinte anos de idade. Saí do mosteiro e andei errante até achar esse pé de Jequitibá o qual vemos agora. Preferi este por ele ser muito novo ainda quando o encontrei. Hoje tenho setenta anos de idade e a cinquenta observo este Jequitibá.
Caramba!! Pensei comigo. Mas que Superior mais cruel, como pôde determinar uma tarefa dessas para o pobre rapaz? Todo mundo sabe que o Jequitibá pode viver por séculos e até milênios. Como ele poderá cumprir esta tarefa e um dia voltar para o Mosteiro?
Então, lapidei meus pensamentos e fiz a seguinte pergunta ao monge:
- Meu caro amigo, mas como você irá cumprir sua tarefa e ter o apreço de seus irmãos e superiores, ou alcançar a Sabedoria, se você tem que observar um pé de Jequitibá até ele Morrer? O Jequitibá pode viver por muitas vidas de um homem!
O monge serenamente me olhou e me perguntou:
- Será que um homem, durante sua vida, encontrará respostas para todas as questões que ele encontrar?
Eu respondi:
- Creio que não.
O monge continuou:
- Então, nem meu superior e nem eu somos tão ingênuos ou desinformados para não sabermos que jamais eu conseguirei ver o completo desenvolvimento deste Jequitibá, até sua morte natural. Porém, a diferença é que, será que alguém já pensou em observar um pé de Jequitibá até ele morrer, para averiguar se ele vive tanto tempo assim? Ninguém! Todos preferem se acomodar e não querem saber se o conhecimento que nos é transmitido é verdadeiro ou não. Poucos tem a boa vontade de subir o morro e averiguar uma questão, assim como você fez. As pessoas, de um modo geral, são cabeças-duras e preferem julgar do que constatar. A sabedoria, meu caro, não está somente nas respostas corretas aos questionamentos, mas, a partir do momento em que você se coloca a caminho na tentativa de resolvê-las, mesmo que você não encontre a resposta correta durante sua vida, a tentativa já lhe tornará um sábio.
Atônito, respondi:
- Nossa, nunca havia pensado nessas coisas por este ângulo! Creio que você já possa voltar para seu mosteiro, pois você já encontrou a sabedoria!
Ele me respondeu:
- Tudo o que aprendi na vida, aprendi observando o Jequitibá durante este meio século. Não vejo meus irmãos monges e meus superiores durante todos esses anos, mas sei que enquanto eu estiver aqui, observando este Jequitibá, eles saberão que cumpri minha tarefa e meus superiores saberão que alcancei a sabedoria...