ESTA CASA

Esta casa eu construí com a esperança de que um dia nela minha vida recomece em outro plano, em silêncio, sem dor. Que demore esse dia, mas que seja rápido quando chegar, sem sofrimento prévio, um leve sopro, nada mais.

Até lá, quero sentir o tempo correr solto, livre da angústia humana de vê-lo passar, da corrida estúpida que muitos travam contra ele; quero me surpreender com o incerto a cortar de súbito os dias com fios brilhantes de vida nova, de esperança sempre renovada no calor ou no frio de cada manhã, na alegria ou na tristeza.

Esta casa eu construí com minhas próprias mãos. Não levou ferros nem tijolos, nem telhas, nem concreto, é de barro e paus, palmeira e cipó, tudo trançado e revestido com madeira, panos coloridos e redes; o chão é de terra batida, pedras e conchas; mas tem conforto, é limpa.

Na nossa horta temos couve, tomate, alface, jiló, quiabo, abóbora, feijão, batata e cenoura. No pomar, pitanga, acerola, manga, goiaba, abacate, limão e laranja. No galinheiro, carne e ovos. Compro farinha integral para o pão, café, panos para as roupas das crianças, livros, velas e outras miudezas. Nossa despesa é muito pequena.

Sou professor de história, dou poucas aulas, ganho pouco, mas vivo bem, eu e minha família, nesta casa que eu construí para nós, simplesmente.

Flávio Marcus da Silva
Enviado por Flávio Marcus da Silva em 21/12/2013
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