Dirijo calmamente, por um bairro florido. Belo, calmo... de ruas esburacadas e vazias das gentes.
É domingo, fim do dia, ao meu lado um querido amigo que reconduzo a sua moradia.
É ele nascido da mesma mulher que me verteu ao mundo; mulher negra, altiva e determinada. Meu amigo me confessa: “É no domingo que eu me torno, ainda mais, reflexivo” Por quê? Pergunto-lhe. E ele me diz: Quem sabe seja porque o domingo anuncia a segunda feira e eu penso que logo voltarei ao trabalho, ou porque no domingo à tarde eu me depare com a triste ilusão de felicidade, que as pessoas demonstram nos bares... Ou ainda, porque é dezembro e eu não gosto da hipocrisia que vigora este mês.
Silenciei e prossegui, dirigindo rumo ao bairro da moradia do solteiro convicto, deixando o calmo lugar de ruas esburacadas para ingressar em outro bairro, este, de fervilhantes pontos comerciais e inúmeros bares. Lá estavam os domingueiros brindando a vida, sorrindo satisfeitos com a ilusão de felicidade. Sorrimos debochadamente às largas, desviando de carros embriagados e bicicletas vacilantes, desviando os olhos dos olhos insinuantes das mulheres de cervejas em punho e pudor posto nos calcanhares.
Meu amigo taciturno e amargo; logo enferma o humor e diz sem temor; Triste é a sociedade que destrói a mulher e a põe na rua bêbada e permissiva.
Não sei se concordo, não sei se discordo dele, confesso que por aqui dentro caminha uma tristeza vestida de indignação, um luto que mantenho desde a adolescência, luto que a mulher que no mundo me pôs, logo percebeu e tratou de tratar, conduzindo-me ao médico da infância, que nada errado percebeu e de posse de sabedoria medicamentosa, mandou que me retirassem os livros e colocassem-me a diversão.
A mulher não me tirou o livro, pôs-me outros e me blindou com a obra prima de Victor Hugo e eu me vi miserável feito Cosette e com ela chorei. Tempos depois, conheci aquela me deu o tom, a cor e o amor. Dela nasceu outra mulher e outra e outra... Minha vida é feita de mulheres e entusiasmo. Quanto ao luto? Permanece oculto, traduzindo minha ancestralidade que Jung tão bem define nos arquétipos que nos postulou.

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Saúdo ao poeta Hermílio que me fez retornar a este espaço.
Sim poeta, a telepatia é fato, logo a ciência a ela recorrerá.
Olimpio de Roseh
Enviado por Olimpio de Roseh em 20/12/2013
Reeditado em 21/12/2013
Código do texto: T4619592
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