Revolução já!

Há dias em que sentimos uma vontade enorme de puxar o sol com as mãos e apertá-lo sem parar, balançando-o nos braços. Depois que nossa solidão esquenta, já tendo o desafio imaginário feito cair as fichinhas da imaturidade e tantas outras mais, é que nos damos conta do tamanho das cicatrizes que ficaram, eternas companheiras, marco nem indeléveis dos descaminhos arquitetados. É por isso que ultimamente tenho corrido menos atrás de prender o vento que nunca deixa de passar veloz. De tanto sufocar-me, aprendi a respirar e, com isso, diminuir a angústia que a vida moderna nos oferece enchendo o cotidiano do laborão.

A alma também cansa, mesmo vivendo no paralelo do físico, apesar de engastada no corpo, perfumando-o. Não vivemos só para nós, mas para todos que, ao alcance dos olhos ou do coração, têm a mesma missão a cumprir na vida: construir neste planeta um ninho acolhedor e farto de boas ações.

Do outro lado do muro estão o desemprego, a violência, a fome. Como podemos avançar no passeio da existência? Nossas almas escondidas, envergonhadas, sofrem e involuem. A palavra forte denuncia, e as ações esperadas do povo e dos governos não chegam àquele outro lado.

Vejo um píncaro mortífero para onde a humanidade está indo. Todos sobem à procura do acalanto e da paz. Nele se acomodam a violência e a desesperança. De tantos miseráveis em procissão, as estradas ficaram apinhadas de gente.

Ou dividimos o que temos ou estaremos em no máximo vinte ou trinta anos entre esses miseráveis que, desesperançados, não mais clamam, apenas gemem. A convulsão social começa no silêncio do desorizonte e do medo; cresce com a fome, a injustiça, para virar a violência infrene e má.

Em um país como o nosso, cheio de terras férteis, sol engarrafável, um povo admirável, água em abundância, uma multidão campesina à procura de trabalho, o que é que pode faltar? Vergonha na cara e vontade de decidir.

Não sei para que tantos partidos políticos, tanto dinheiro gasto em vão, se o Brasil poderia ser governado por gerentes sociais, esses sonhadores cujos olhos brilham quando sabem o que podem produzir em prol da sociedade. O dinheiro que o país gasta com eleições, até para veneração de defuntos, deveria ser desviado para o campo, de onde vai depender a continuidade da vida no planeta, já que é nele onde estão as maiores promessas de sobrevivência. O Brasil é pai do planeta: possui água e terras agricultáveis.

Não é como em um passe de mágica que resolveremos nossos maiores problemas. Mas, o que nos é pior é o fato de estarmos demorando muito para iniciarmos nossa revolução. Dólar é dólar, globalização é globalização, o que devemos ter é nosso projeto de independente e sustentável desenvolvimento. O que não produzirmos agora, produziremos mais tarde e, ante disso, importaremos dos nossos irmãos mais desenvolvidos.

Quero anunciar que em uma situação de caos social, uma programação pode ser feita, mas depois de um rastro de muita destruição. A vergonha de nossos governantes devia ser abastecedora de um plano desenvolvimentista forte, que não permitisse aos excluídos a feitura de certos movimentos reivindicatórios que mais parecem pequenas guerras fratricidas de que qualquer outra coisa.

Um caminhão de soja não pode valer a mesma coisa que alguns frascos de perfume importado. Temos que ter noção do irreal e do imoral. Quando todos nós estivermos de barriga cheia, aí sim, podemos pensar na cor da roupa que devemos comprar e, quem sabe, lá para o meio da caminhada, tomar um espumante feito na fazenda Sueca de União dos Palmares e abastecermos nossos veículos com biodiesel fabricado no sertão. O sul, o sudeste reservarão seus belíssimos hotéis e sua tecnologia de ponta em tantas áreas desconhecidas. Um lazer programado e merecido nos levará por lá.

Quero apenas que me sobre um tempinho à noite para ler um bom romance regionalista, ou um best seller europeu. A revolução está mais próxima de nós do que deles. Comecemos!

Hoje, meus caros leitores, amanheci desejando abraçar o sol e frear o vento. Como caíram-me as fichas, pensei nessa maravilhosa revolução alimentada dentro de mim. O Brasil que penso para todos nós é bem maior do que apenas este que ainda gemula.