VENHA COMPROVAR


       Sempre que volto ao sertão da Paraíba, no caso à cidade de Cajazeiras comprovo que na verdade o sertanejo é antes de tudo um forte. Nada o dobra, nem mesmo o fragelo impiedoso da seca, essa seca que enriquece e empobrece. Uns por se valerem da tragédia e usarem a seca como moeda de troca, outros por aceitarem a sina como sina. Favores, conchavos, roubos, tudo em nome da dor alheia. Mas, independente de tudo, o sertanejo é um povo bonito, alegre, de bem com a vida. Gostam de festejar tudo e todos, de prosear com os vizinhos refrescados pelo Aracatí ( brisa vinda do Ceará todas as noites potualmente as dezesete horas, durando uma meia hora) e fundamentalmente são apaixonados pelo seu chão. Descobrem em tudo um motivo para ser feliz e agradecer. Agradecem o pingo de chuva que caiu na noite anterior, agradecem a continuação da vida, enfim viver é um milagre.
         O solo é rico e bastaria uma irrigação para transformá-lo num celeiro. Paciente ou atrevidamente o agricultor volta a plantar, a replantar indefinidamente a semente que o sol esturricou numa prova de que a esperança é permanente, nunca passageira. Nem a secura do solo petrificado impedindo o corte da terra o impede de continuar tentando. "Deus proverá" Invejo essa resistência, essa fé que não se abala, essa força tirada não sabe de onde.
         Esse é o sertão, apaixonante, belo, forte a exibir orgulhosamente seu por de sol vermelho, é o sertão da revoada dos periquitos e papagaios acordando todos para a lida nas madrugadas. É o sertão dos cantadores, dos repentistas, das feiras, ponto de encontro dos sitiantes, das sandálias de rabicho arrastadas no sala de forró ao som da sanfona. É o sertão dos cardeiros, dos faxeiros, dos mandacarús que exibem seus frutos rubros e suas flores alvas, alvas. Sertão de mulheres bonitas, de homens atrevidos, de romeiros e devotos de padim Ciço.
        Você não se apaixonou? Venha comprovar...