PICO DA TIJUCA
Mais uma vez me vi arrastado para o Pico da Tijuca. Minha cunhada mancomunada com a minha esposa tramaram tudo. Iriam disfarçar de passeio aquela caminhada forçada em busca de perda de calorias e de uns pneuzinhos. Fiz-me de inocente e aceitei. No final das contas, visitar a Floresta e suas trilhas divertia-me já há 25 anos. E também tinha minha curiosidade de ver aquelas duas mães lidando com dois meninos sedentos de aventuras no meio de uma mata.
Partimos. Não reclamei do excesso de bagagem que as mães prudentes insistiram em trazer. Não. Iria apenas, sem reclamações. No meio do caminho, dentro do carro, as mães falavam para os filhos de obedecer, de não se perder, de não correr, de não se machucar e de todas as outras coisas que as mães falam depois de terem se arrependido de levar criança para um passeio de adulto. Ao mesmo tempo, os primos já combinavam como iriam derrotar onças, gigantes, monstros, piratas e zumbis que encontrariam naquela aventura na selva.
Descemos do carro na última clareira no Bom Retiro. Peguei o excesso de bagagem, descartei metade na mala do carro, sem ninguém ver, e a outra metade botei dentro de uma mochila que coloquei nas costas. Peguei três cantis e enchi com água da nascente. Primeiros protestos das mães zelosas: água sem tratamento, que poderia estar cheia disso, ou daquilo e daquilo outro. Falei tranquilamente que aquela água era só para mim, e que cada um poderia matar a sede com a água que tivera trazido. Isto pôs fim ao primeiro protesto, quando começou o segundo. A trilha é perigosa? Tem bandido? Tem cobra? Tem aranha? É muito cansativa? É perigosa?? Não. Não. Sim. Sim. Não. Não! Mas, se aparecer serpente ou aranha é só ficar atrás de mim e esperar o bicho passar. Respiração aliviada, mas... E se aparecer ladrão? Vai roubar os cantis de água e os sanduíches de mortadela. Dei mole... o resto da merenda tinha ficado no carro, e fui obrigado a voltar lá e me sobrecarregar com mais dois quilos de frutas e barrinhas de cereais.
Os primos iam à frente correndo e batendo com galhos caídos as pedras e os troncos que teimavam em se metamorfosear em toda espécie de bicho, criatura fantástica, pirata e bandido. As mães iam tagarelando e só paravam para poder zangar com os meninos ou para perguntar se ainda faltava muito e se não tinha perigo os meninos estarem tão lá na frente.
Finalmente chegamos. A escadaria de pedra escavada na rocha parecia para mim a escada do paraíso. Mais explicações e orientações de segurança das mães. Dessa vez os meninos foram bonzinhos e iam subindo de quatro e lentamente o início da escadaria. Mas, lá para o meio, foram correndo e pulando até chegar ao topo, em meio às zangas e gritos de cuidado das mães.
Tirei a merenda da mochila para minha esposa e minha cunhada arrumarem o lanche em uma toalha, e antes que elas me pedissem outra coisa, falei que ia ali, subentendido que iria ao banheiro natural.
Desci uma pequena trilha, sentei em uma pedra ensolarada com o vento batendo no rosto. O cheiro da floresta invadia minhas narinas. Borboletas verde-metálico esvoaçavam. Ao longe, abafado pelo ruído da cidade, em ondas brancas, nos costões e nas praias, batia o mar.