Vê se arruma um emprego

Vê se arruma um emprego agora no final de ano, nem que seja temporário. Era isso que repetiam para ele em casa. Sugeriam que procurasse nas lojas do shopping. Ele respondia que já tinha um diploma e queria trabalhar na área. Mas há meses que ele tentava e não conseguia. Ultimamente ele tem esperado uma ligação. No mês passado fez uma entrevista que o deixou cheio de esperança. “Em dezembro vai sair um pessoal e então a gente te chama”, disseram. Mas não chamam nunca e ninguém diz nada quando ele liga para lá. Não é a primeira vez que se decepciona. Ainda se lembra do sujeito que recebeu o seu currículo, colocou numa caixinha e disse: “O seu é o segundo. Não deve demorar”. Pois está demorando até hoje. E agora veio o final de ano e com ele os jornais falando que sobram vagas no comércio, e de repente a pressão em casa para que trabalhasse aumentou. Decidiu imprimir um punhado de currículos e entregá-los pessoalmente, o que sempre parece melhor do que simplesmente enviá-los por e-mail.

Trazia consigo uma lista de lugares possíveis e começou a percorrê-los. No primeiro foi recebido pelo porteiro. Provavelmente orientado para esses casos, o porteiro pediu que entregasse o currículo para ele mesmo. “Eu passo pro pessoal”, explicou. Em outro lugar conseguiu entrar e foi bem recebido, mas teve que ouvir uma frase dolorosa: “Houvesse vaga, era sua”. Aos poucos ia riscando os nomes de sua lista e já estava quase desistindo quando decidiu tentar em mais um lugar.

Bateu à porta várias vezes e ninguém atendeu. Percebeu que estava aberta e entrou. Não havia ninguém na recepção. Na sala seguinte duas ou três pessoas trabalhavam em frente ao computador. Perceberam a sua presença, deram uma olhada e voltaram a trabalhar. A moça da limpeza também viu e fez mesmo. Ninguém queria saber o que ele estava fazendo ali. Pegou um currículo, deixou em cima da mesa na recepção e saiu. Certo de que ele seria visto e imediatamente amassado e jogado no lixo.