NÃO GOSTO DE VOCÊ MEU RIO SOLIMÕES: 2 MESES DE SAUDADE!

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Estou com muita raiva de você meu Rio Solimões que tantas alegrias me proporcionou no passado por me deixar ao ver nas suas águas a “Piracema”, a“Pesca de Pirarucu” que o senhor João Batista pacientemente realizava, navegando calma e lentamente as “Chatas de Rodas”, as“Burras Pretas” da Petrobrás, os navios Lauro Sodré e Benjamim Constant que os olhava abobalhado na comunidade de Varre-Vento, do alto do barranco, mas que me pareciam duas cidades flutuantes com tantas luzes acesas ao mesmo tempo, transformando madrugadas escuras na comunidade que vivia à luz de lamparinas em dias claros, por que foi exatamente você que engoliu, devorou e não devolveu mais o corpo de meu primo Francisco José da Costa Amaral, o “Tico Zé”, como eu e a família o tratávamos carinhosamente!

Ah, meu Rio Solimões, por que não devolve o corpo de meu primo, o meu “Tico Zé” à família angustiada, 60 dias depois? Por que será meu Rio Solimões? Será que meu primo ouviu o canto das sereias e foi encantado enquanto pescava em suas águas, como descreve o escritor Tarcísio Machado, em seu excepcional livro “OS SETE SEGREDOS DO RIO AMAZONAS”? Não, acho que não! Será que ele decidiu nadar ao encontro de seus cantos que dizem que encantam e se afogou de tanto cansaço, na tentativa? Acostumado a pescar em suas águas, meu primo teria sido engolido pela alma do pirarucu que seu João Batista pescara e que marcou minha vida? Ou você ficou bravo só porque ele pescava seletivamente?

E o que dizer então dos pescadores que matam os peixes inocentes pequenos e os jogam fora depois? Isso é de revoltar! Não era o que meu primo fazia! Mas você meu Rio tem segredos e motivos que ainda não foram decifrados, por maior que seja a imaginação de seus admiradores como eu, que não lhe entendo porque existem muitos mistérios em suas bravias e barrentas águas e que precisam ser pesquisados.

Será que o peixe piraiba, que só existe em suas águas devorou o corpo de meu primo? Ou teriam sido os temidos candirus ou as piranhas com fome e o devoraram? Talvez mas piranhas, pelo que sei, são raras em meu Rio Solimões, sendo mais próprias do Rio Negro, seu amigo e que só se conhecem e se encontram em frente da cidade de Manaus no famoso “Encontro das Águas”, negras do Rio Negro e barrentas do Rio Solimões.

Mas, meu Rio Solimões, por que você deixa a família do Tico Zé tão apreensiva, esperando que pelo menos que seu corpo surja de suas profundezas infindáveis para proporcionar-lhe um enterro digno. Como estará a mãe do Tico Zé, minha primeira professora? Sei que ela não está bem, porque sofre do coração. Será, meu Rio amado, que você é tão violento ao ponto de fazer sofrer uma mãe que só quer de volta o corpo de seu filho? Ele só queria pescar em suas águas e que fatalmente caiu da canoa e foi engolido por você? Por que você não vomita, da forma que tiver?

Olhe meu Rio Solimões, se estiveres com raiva porque eu e o Tico Zé deixamos de nos ver e falar a muitos anos porque cada um seguiu seu caminho, eu lhe peço perdão. Mas devolve o corpo do “Tico Zé” para que eu não volte a ficar bravo com você que tantas alegrias e sonhos me fez sonhar, que me trouxe até Manaus, que me transportava pelas suas águas bravias, no barco de seu Pantaleão rumo à escola de minha tia Terezinha, mãe de meu primo Tico Zé, para aprender as primeiras lições de português e outros conhecimentos que hoje devolvo a todos! Por favor, devolve o corpo de meu primo! Se quiser e lhe fizer falta mais um corpo, pode me levar em seu lugar porque tenho dificuldades para nadar depois que sofri o derrame cerebral em uma de minhas cirurgias, em SP.

Ah, ia me esquecendo de lhe dizer: se o corpo do Tico Zé boiar do em algum lugar que seja de seu leito, a família toda ficará feliz, mesmo que já esteja todo irreconhecível. Também minha raiva de adulto contra você passará e talvez, quem saiba, o escritor Tarcísio Machado acrescente mais um capítulo em seu livro OS SETE SEGREDOS DO RIO SOLIMÕES: o Rio misericordioso que devolveu o corpo de mais um pescador à família para um enterro digno. Não seria ótimo, hem meu rio? Mas não terá sido o primeiro corpo que você devolverá, meu magnífico e misterioso Rio Solimões!

carlos da costa
Enviado por carlos da costa em 18/12/2013
Reeditado em 18/12/2013
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