O caminho certo daí-nos hoje
Existe uma estrada, cada um deve por o pé e seguir, não importa se atrás, na frente, de lado ou de banda, o importante é seguir, nunca desistir e, caso não seja o caminho correto, é sempre tempo de mudar a reta, seguir outra seta, propor uma nova curva e sentir o sol. Vez por outra, caso encontre uma sombra, pare, veja, é tempo de descansar, saber se deve ir adiante ou retroceder, acender uma luz interior da cor da esperança porque é preciso caminhar, na estrada, no caminho de cada um como escolha de brincadeira e ser leve como uma borboleta de cores sem fim, assim a dor é amena, se evita o sofrimento que se faz desistência. Na calada do dia, a estrada é fria, depois esquenta, para em seguida ser calada novamente, como ciclo bom de uma manhã preceder a tarde e a tarde preceder a noite e depois da noite um novo dia, que virá um outro dia e os ciclos se vão pelas estradas.
Existe uma estrada real, pautada na condição de matéria densa, essa pode ser desenhada, sentida, pisada com os pés do corpo físico ou condicionada a tudo que se pode ser ou é, de forma instantânea. Nela a gente pode inventar a solidão ou criar belas pipas de material existente no meio do caminho e no meio do caminho parar e empinar a liberdade construída pelas nossas mãos e sorrir, e sentir, e se abraçar, e celebrar a vida como se fôssemos pião libertando-se da linha ou uma bela brincadeira de esconde-esconde, fechar os olhos com toda a força da água caída na cachoeira e contar com os olhos fechados os instantes de vida presenteados pelo desejo de pertencimento existente entre nós e o tempo que caminhamos de bruços, engatinhando ensolaradamente no caminho que vamos tecendo pela manhã...
Existe uma outra estrada mais ereta, reta, que a seta nos diz já ser o sol um astro rei depois da linha eixo da terra. Nessa estrada não há tanto tempo para as brincadeiras, os faz de conta a gente aprende pela experiência e depois de já termos engatinhado, agora é o tempo da elevação, nela as vielas são mais estreitas e não temos muito tempo de parar para escolher a curva da dobra certa, o certo é estar atento para o relógio marcador do tempo exterior e no interior nada mais é tão lendo, tudo é latente, atroz, dono de uma verdade que nem sabemos como se construiu e as brincadeiras de outrora são experiências sérias, sem muito riso ou satisfação ou tempo de erro, daí dizer que ninguém se banha na mesma banheira de espuma duas vezes porque a água se suja, temos pressa e apressamos o passo para atravessarmos a ponte antes do por do sol. O sol é nosso guia, existe a luz e por ela se vai suando, bamboleando os passos descompassados vez por outra, vez por outra um tiro ao alvo e mesmo sem acertos o topo é nosso ponto de chegada. Se faz frio, a claridade se vai, uma outra luz para nos guiar na escuridão e vamos a procura das Marias cegas...
Existe a estrada, única, punitiva, depois das escolhas que fazemos e só porque já se faz escuro, o sol se foi, somos seres de lua, enluarados aramos nossos caminhos com o peso das gotas do nosso suor produzido pelas investidas de felicidade diária, de lua necessitamos do auxílio porque a solidão dói. Dói a força do tempo e o cansaço das pernas que nem mais engatinham, nem mais se pertencem eretas, pelo auxílio da estação lua minguante, homem de tantas faces precipita-se em lentos passos pelo auxílio do encosto. Nessa estrada os tropeços, o corpo mais pesado, não podendo mais ter trechos elevados, tudo plano porque a falta de plano em outras estações nos proporcionou alegorias. Sorrimos de dia, nos fechamos com o sol e depois do vento frio só caretas e mil facetas em nós. Seguirmos a condor pelo barulho das batidas das asas, somos asas e pelo avesso, mais uma travessura, mais uma usura de querer abraçar o infinito sem trilhar a estrada existente dentro de cada um, como labirinto, um instinto de voz cansada, de pouca visão e um coração se fazer casinha de João de barro e nada de deixar grãos, fios, ou pegadas, ninguém merece saber o caminho de volta, cada novo caminho deve ser único, assim é a ida, assim também deve ser a volta.