Grevistas e Grevistas
Joel era gerente de uma equipe do núcleo de processamento de dados (NUSEC) da Agencia Porto Velho do Banco do Brasil nos bons idos dos anos 80. A sua equipe, era uma das duas responsáveis pelo processamento e critica de dados bem como pela emissão dos necessários relatórios para o funcionamento das agências de Porto Velho(RO), Ariquemes(RO) e Humaitá (AM). O apelo da administração bem como da Superintendência Regional não foram suficientes para sensibilizar o "enfático" rapaz a não participar de uma das maiores greves do setor bancário de todos os tempos. O Enfático aqui, é por conta dele mesmo, que certo dia, questionado por sua voz alta em uma reunião, alegou esse motivo. Assim, então, a greve foi geral, pois sem uma equipe a outra não tinha o que fazer nem porque funcionar. Sem ambas, o processamento ficaria estagnado e as agencias também não poderiam atender seus clientes, pois estávamos a uma década da chegada do sistema online.
A greve foi longa e massiva a ponto de trazer resultados bons para a categoria. O que mais me chamou atenção nessa greve, entretanto, não foi a duração, os resultados ou a maneira como aconteceu. Foi um fato pitoresco e isolado ocorrido numa chuvosa noite de quinta-feira. Fomos para o nosso clube, a AABB, tomar umas cervejas e lá nos deparamos com o dito colega numa rodada de violão, pra lá de Teerã, como se dizia. Alguém cumprimentou o rapaz com o costumeiro "Como é que vai?". "Como é que vou?... Ora! Eu vou muito bem! Ciente de minhas obrigações sindicais e do meu compromisso com a nossa causa. Pois saibam que exite grevistas e 'grevistas'..." Respondeu o Joel, complementando a seguir: "Podem me chamar de qualquer coisa, menos de pelego! E se alguém quiser retirar meu cargo, eu não ligo, pois sei que tenho capacidade de conquistá-lo novamente.... E VIVA A GREVE GERAL". Foi aí que o pessoal caiu na gargalhada... "Que foi?" Quiz saber ele. "Nada não Joel! É que tava todo mundo preocupado com seu sumiço. A gente tava até querendo ir na tua casa, ver se tinha acontecido algo!", respondeu alguém. "Como assim? Eu tô de greve, vocês não sabem. E não abro mão, não adianta pressão. Não volto!". Mais uma vez alguém falou: "O caso é que você está só, nessa greve!"
- 'Só' coisa nenhuma! a greve é geral e nacional!
- Era, Joel! Era! Ela terminou na sexta-feira. Amanhã já vai fazer uma semana. Estamos todos trabalhando desde segunda. Quer dizer, todos menos você"