O ABRAÇO DO TIO
O ABRAÇO DO TIO
17/12/13
Fazia minha caminhada matinal quando me chamou a atenção um pai que retirava com truculência seu filho, que gritava que não queria ir a aula, do carro. Calculo que o garoto não tinha mais que sete anos. O pai que conduzia um belo carro, também aos berros ameaçava o garoto e dizia já estar atrasado. Isto se deu até que um senhor de cabelos brancos, saindo de dentro da escola veio em socorro do pai e colocando seu braço no ombro do garoto disse de forma firme, mas cheio de ternura: vem ajudar o tio, vamos ficar aqui na porta e conversar. Palavras simples e mágicas, no mesmo instante o garoto soltou o pai e foi com o “tio”. Isto se deu ao longo de 15 a 20 passos mais lentos que o habitual em face da inusitada contradição dos comportamentos. Geralmente uso minhas solitárias caminhadas para programar meu dia, coisa que faço em pouco tempo por já fazê-lo há muito tempo e depois para reflexões e lembranças felizes, na maioria das vezes, que tornam meu dia mais leve. Aaproveitei o ocorrido para refletir.
Primeiro pensei no pai que ao se afastar e ir ao seu destino sozinho deve ter pensado que poderia ter feito diferente e após um diálogo mental em que se acusava e se defendia justificando que tinha hora, jurou que procuraria se controlar e nada valia mais do que seu filho.
Depois pensei na criança que pela sua inocência utilizou da única arma que dispunha para mostrar a sua vontade ou a sua falta de vontade.
Por último pensei no “tio” que se intrometendo em uma relação familiar soube usar de sua experiência demonstrada nos cabelos brancos e além de conseguir com que a criança entrasse na escola, liberou o pai sem agravar o ocorrido.
A partir desta primeira reflexão passo a pensar que as três personagens tiveram erros e acertos em suas atitudes e que na vida essa dualidade contraditória sempre esta presente dependendo do olhar, olhar externo ou interno. Na realidade essa dualidade é que nos permite o desenvolvimento continuado. Este desenvolvimento vem através do aprendizado pela observação de quais são os nossos limites e quais comportamentos, do outro ou nosso, nos exemplificarão o que devemos assimilar e o que devemos evitar.
Por fim pensei que a vida age conosco da mesma forma como agiram os três atores: as vezes ela nos surpreende com comportamentos inesperados face a rotina. Em outras ela nos envolve em um abraço e nos convence que existem outras possibilidades além da nossa vontade. E por último ela nos trata com incompreendido rigor nos tirando truculentamente de nossa zona de conforto quer sejam nas posses, na saúde, no trabalho ou em nossas relações e aí temos que ter a maturidade para entender o porquê e ter a confiança em que existe um “TIO” que nos socorrerá.
Geraldo Cerqueira