Tentei, como eu tentei ser o amor que você esperava. Fui várias pessoas menos eu mesmo. Sufoquei meu eu e fui todos os seus sonhos, suas fantasias e a realidade que você criou. Pela manhã ao me olhar no espelho, não me via mais, estava invisível. Desesperado pensava: "Perdi meu eu."
           Pelo seu amor perdi minha identidade no tempo e no espaço e participei de um épico. Isso mesmo, nossa vida foi épico como "E o vento levou". Você era a Scarlett O'Hara, mas eu não consegui ser o Clark Gable. Durante anos só me encontrava quando estávamos na cama. Embaixo de nossos lençóis eu era o homem que você olhou e se encantou, o homem que você ainda não tinha roubado a identidade. Na cama,  trepando, eu podia ser um homem real, rústico, safado por que em nossa intimidade eu era seu dono, seu macho, seu putão.
             Você me perdeu para a sociedade. Os momentos na cama foram rareando e eu sumindo. Ficou apenas o sonho e a fantasia e eu não consegui segurar. Um dia resolvi me resgatar e fui arrumar as malas para ir ao meu encontro. Ao abrir o armário, resolvi não levar nada e sai com a roupa que tinha entrado na sua vida que não sei por que tinha guardado. Talvez eu inconscietemente tive uma premonição quando cheguei na sua casa. Na rua não quis olhar para trás e fui caminhando sem rumo. Horas depois cansado, parei e percebi que tinha me achado novamente. Apalpei todo o meu corpo e me senti. Uma garota passou, olhou-me, eu a olhei e meia hora depois trepavamos encostados numa árvore. Gozei profundamente, como gozava antes.
               Eu estava de volta.
 
José Raimundo Marques
Enviado por José Raimundo Marques em 17/12/2013
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