A PRIMEIRA VEZ...
Nascer é uma estréia no palco da vida para qual a cada papel corresponde um estágio. Ninguém nasce sabendo o que para cada chance da vida há sempre a primeira vez. Do geral ao particular, comigo não foi diferente: da primeira vez que fui à escola nem me lembro. Mas contam-me que foi de “cortar o coração” aquela breve ruptura do laço materno-afetivo para adaptar-me a outro ambiente. A primeira comunhão já foi algo natural, embora eu não estivesse absolutamente consciente daquele cerimonioso sacramento. Depois, fui crescendo e outros mundos descobrindo equitativamente nos planos físico, mental, intelectual e espiritual. De dentro para fora, de fora para dentro. Percepções, instintos, sensações. A primeira vez o amor chegou “sem me dizer que vinha” e eu nem sei se me fez senti-lo ou confundi-lo naquela inquietação fantasiosa e deslumbrante. Outra vez, em mim foram estranhas as sensações que eu senti. E em mim me descobri.
A primeira vez do amor, na vez primeira o desejo. Na primeira vez, se foi amor, não sei. Talvez. Mas fez-me tremer de prazer a primeira e estranha sensação que senti... O primeiro vestibular, a primeira graduação, a primeira audiência exercitando-me pela primeira vez as alegações finais orais. O primeiro concurso. O casamento, primeira, inesquecível e (espero) definitiva vez. A vez primeira de ser pai, emocionalmente incomparável à segunda vez.
Cada momento é um novo tempo. Um ensaio no palco da vida, com cenas da tragicomédia humana. Somos todos personagens, a cada qual um papel inserido aos seus atos. Castro Alves genialmente protagonizou:
A vez primeira que eu fitei Tereza,
Como as plantas que arrasta a correnteza
A valsa nos levou aos giros seus...
E amamos juntos... E depois na sala
“Adeus” eu disse-lhe a tremer co’a fala
E ela, corando, murmurou-me: “adeus.”
O boêmio poeta fez analogia da primeira vez do amor com as plantas que a correnteza arrasta (Daí o verbo arrastar no singular, concordando com correnteza, sujeito) e a valsa que os levou aos giros seus. Que metafórica alusão à primeira vez do poeta, sintaticamente inversa no “Adeus” de Tereza.
“Uma noite... entreabriu-se um reposteiro
E da alcova saía um cavalheiro
Inda beijando uma mulher sem véus...”
Que alegoria fantástica insere a magnífica narrativa poética. Que bela cena se descortina nesse palco em que a vez primeira do genial poeta Castro Alves mostra a “pálida Tereza” já sem o véu da pureza, uma alusão, quem sabe, à atriz Eugênia Câmara, de quem fora amante. Espetáculo não veríamos no palco deste mundo se cada vez primeira não representasse uma cena da vida humana.
__________
Ouvir>
http://www.youtube.com/watch?v=T72Pzo1QwAQ
Nascer é uma estréia no palco da vida para qual a cada papel corresponde um estágio. Ninguém nasce sabendo o que para cada chance da vida há sempre a primeira vez. Do geral ao particular, comigo não foi diferente: da primeira vez que fui à escola nem me lembro. Mas contam-me que foi de “cortar o coração” aquela breve ruptura do laço materno-afetivo para adaptar-me a outro ambiente. A primeira comunhão já foi algo natural, embora eu não estivesse absolutamente consciente daquele cerimonioso sacramento. Depois, fui crescendo e outros mundos descobrindo equitativamente nos planos físico, mental, intelectual e espiritual. De dentro para fora, de fora para dentro. Percepções, instintos, sensações. A primeira vez o amor chegou “sem me dizer que vinha” e eu nem sei se me fez senti-lo ou confundi-lo naquela inquietação fantasiosa e deslumbrante. Outra vez, em mim foram estranhas as sensações que eu senti. E em mim me descobri.
A primeira vez do amor, na vez primeira o desejo. Na primeira vez, se foi amor, não sei. Talvez. Mas fez-me tremer de prazer a primeira e estranha sensação que senti... O primeiro vestibular, a primeira graduação, a primeira audiência exercitando-me pela primeira vez as alegações finais orais. O primeiro concurso. O casamento, primeira, inesquecível e (espero) definitiva vez. A vez primeira de ser pai, emocionalmente incomparável à segunda vez.
Cada momento é um novo tempo. Um ensaio no palco da vida, com cenas da tragicomédia humana. Somos todos personagens, a cada qual um papel inserido aos seus atos. Castro Alves genialmente protagonizou:
A vez primeira que eu fitei Tereza,
Como as plantas que arrasta a correnteza
A valsa nos levou aos giros seus...
E amamos juntos... E depois na sala
“Adeus” eu disse-lhe a tremer co’a fala
E ela, corando, murmurou-me: “adeus.”
O boêmio poeta fez analogia da primeira vez do amor com as plantas que a correnteza arrasta (Daí o verbo arrastar no singular, concordando com correnteza, sujeito) e a valsa que os levou aos giros seus. Que metafórica alusão à primeira vez do poeta, sintaticamente inversa no “Adeus” de Tereza.
“Uma noite... entreabriu-se um reposteiro
E da alcova saía um cavalheiro
Inda beijando uma mulher sem véus...”
Que alegoria fantástica insere a magnífica narrativa poética. Que bela cena se descortina nesse palco em que a vez primeira do genial poeta Castro Alves mostra a “pálida Tereza” já sem o véu da pureza, uma alusão, quem sabe, à atriz Eugênia Câmara, de quem fora amante. Espetáculo não veríamos no palco deste mundo se cada vez primeira não representasse uma cena da vida humana.
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Ouvir>
http://www.youtube.com/watch?v=T72Pzo1QwAQ