JANELA INDISCRETA
                                       “Para o ciumento, é verdade a mentira que ele vê.”
                                      (Calderón de La Barca)
  
 
Carminha era o nome da moça.
Clodoaldo descobriu isso após uma conversa ensaiada com o porteiro do prédio vizinho ao dele.
Ela morava num apartamento ao nível do seu, de forma que a visão era perfeita, e só  ligeiramente prejudicada pela distância.
Clodoaldo se deliciava todas as noites, com a visão daquela bela mulher desfilando, nua, com a graça de uma corça em plena liberdade.
Mas, Clodoaldo queria mais!  Ansiava pelos mínimos detalhes; desejava saber a cor dos seus mamilos, sentir os pelos de pêssego que cobriam seu ventre, a cor dos pelos pubianos, o maravilhoso arredondado de suas benditas nádegas, o aconchego de suas torneadas coxas, a marca branca do seu biquini, o contorno de sua desejada boca.
- Tá resolvido – decidiu Clodoaldo- amanhã mesmo comprarei uma possante luneta!
Dito e feito; saiu mais cedo do trabalho, comprou a luneta e um tripé e, como criança que espera um doce, partiu, célere, para sua casa.
Montou toda a tralha, mesmo com a dificuldade de entendimento do manual, e ficou, trêmulo, aguardando a hora.
Cai a noite e o apartamento da Carminha continua escuro, como o seu.  A demora é torturante, “ela nunca demorou tanto”, o cinzeiro está até à boca de tocos de cigarro,
a garrafa de uísque está a meio, o gelo acabou...
O carrilhão bate 20 horas e, como se comandado por ele, as luzes da Carminha acendem!
Clodoaldo contém um grito, seu coração dispara, uma onda de adrenalina o envolve e ele, rapidamente, posiciona a luneta, acerta o foco e aguarda.  Uma porta batendo desvia sua atenção e, quando retorna à luneta, dois malhados peitorais enchem a objetiva. Sem entender nada, recua o zoom e, aí sim, tem certeza de que se trata de um homem, ou melhor, um Deus do Olimpo na janela da Carminha.
- Ah, Carminha, você me traiu!
Sem desgrudar o olho, vê o rival levantar os braços, num bocejo, expondo bíceps e tríceps de dar inveja ao Rambo e, em seguida, voltar-se e dirigir-se à porta de entrada.
Nota o seu gingado de atleta e, à medida que se distancia, mostra que está usando, apenas, um suporte atlético, que, para quem não sabe, trata-se de um artefato masculino composto por três tiras elásticas; uma cinge a cintura e as outras duas passam por baixo das nádegas e suportam um saco de pano, que serve de tapa-sexo.
A plebe, pra facilitar, batizou essa coisa de “culhoneira”.
O homem ensaia uns passinhos de destaque da Portela e Clodoaldo tem que convir que os movimentos de suas empinadas nádegas lembram muito a graça e a força das ancas dos cavalos de raça.
Continua à frente o famigerado e, nesse momento, Clodoaldo não pode reprimir um
Ah !, entre surpreso e aliviado.  O cara está usando pantufas cor de rosa, com uma grande borla sobre o peito do pé e...saltos altos!
- Pô , o  infeliz é boiola!  Carminha, minha querida diabinha, você continua me surpreendendo e me fazendo mais feliz a cada dia!!
Credibilidade da estória, como diria o nosso Antenor, da Edileuza: - “Há controvérsias”
                                        -o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-
(Dedicado a todos os carentes de amor deste planeta)
 
 
 
 
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paulo rego
Enviado por paulo rego em 16/12/2013
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