aurora
AURORA
Levantei-me cedo, não agüentava mais brigar com meus pensamentos, pois apanhava de todos. Abri a janela contemplei a manhã que nascia olhei para o céu, me senti tão pequeno que duvidei da própria existência. Então agradeci.
O criador é tão magnânimo, que apesar de todos os meus pecados, me acorda e empurra-me cama a fora, para que eu possa assistir, o Show do amanhecer. Faz-me crer que minha presença é necessária penso que talvez queira uma testemunha, ou mesmo um espectador para mostrar seu trabalho. Uma pintura, uma perspectiva colorida do projeto diário que coloca em discussão. E nós simples mortais, idiotas que somos, muito das vezes palpitamos na obra perfeita. E o que é pior encontramos defeito. Mas ele perdoa, porque o homem ainda é um estudo preliminar.
O céu estava carregado, nuvens cor de chumbo passando para o negro, com aspecto ameaçador moviam-se com velocidade. Pareciam enlouquecidas empurradas por um sopro terrível que queria vê-las muito distante. Algo de muito ruim realmente devem ter feito, pois logo a seguir, o céu foi riscado por centenas de raios que iluminavam a terra, que por sinal já estava bastante escurecida. As faíscas luminosas pareciam serpentes de ouro, talvez guardiãs de algo muito valioso que estava sendo ameaçado por algum invasor. Trovões assustadores se faziam ouvir, os estrondos eram tão violentos e contínuos, que se estivéssemos em uma guerra, o fogo das peças de artilharia se sentiriam como bombinhas de São João. Rajadas de vento tudo varria, as árvores dobravam seus ramos até ao solo reverenciando o espantoso vendaval. Redemoinhos formavam-se arrastando as folhas secas arremessando-as para cima, e a seguir caiam como confete na grama verde do meu jardim.
Tudo sobre a terra havia preparado-se para receber o grande temporal, todos foram avisados. De repente um silêncio se fez ouvir, e a água desabou como uma cascata de prata. Começou lavando o próprio céu, que a seguir clareou-se, abrindo uma nesga por onde os raios do sol se atreveram a passar. A pancada de chuva foi forte, mas passou com rapidez olhei um pouco para o leste, e percebi que os raios solares passavam através de nuvens ralas e atravessavam gotículas d’água que funcionavam como um prisma formando um arco-íris.
Já se começava a ouvir barulhos na cidade, e um bando de Maitacas escandalosas atacou sem cerimônias os cachos dourados da minha linda palmeira de leque. Aprovei o projeto, fechei a janela e voltei a agradecer.