A torcida masculina
Ela entra em cena sempre que o jogo para. É uma jovem e bonita morena que veste uma roupa justíssima e tem parte das costas nua. Veste-se assim porque é preciso animar a torcida masculina, geralmente a maioria no ginásio. Sejamos francos: não se exige dela a menor inteligência. Basta que sorria o tempo inteiro, corra para lá e para cá, erga os braços freneticamente, peça gritos da arquibancada, e o resto fica por conta dos seus atributos físicos e indumentários. Do outro lado do ginásio existe uma versão loira fazendo exatamente a mesma coisa. As duas obedecem ao comando de um animador que, usando microfone, tenta manter o ânimo da torcida lá em cima mesmo diante da mais flagrante derrota. Circulando entre eles, um sujeito vestido de animal, a nossa mascote, está a ponto de arremessar brindes para a torcida.
Também a morena se prepara para arremessar coisas. Ninguém sabe exatamente o que eles arremessarão, mas como é de graça, e para conseguir é preciso passar a perna nos outros, todo mundo se levanta e espera que o arremesso seja feito na sua direção. O animador vem com uma historinha então de que só vai ter brinde pro lado que gritar mais. É a deixa para que a morena venha até o lado que lhe coube e estimule a gritaria, usando para isso uma expressão que parece dizer “como podem achar que alguém grita mais do que nós?”. Grita daqui, grita de lá, até que finalmente começam a arremessar coisas para os dois lados.
Só que tem o seguinte: a morena não leva jeito para arremessar coisas. Por duas vezes ela tenta e por duas vezes o brinde ganha altura, mas não distância. Cai logo à frente dela. A torcida ri, e ela também ri, porque é preciso rir e manter o clima de diversão. Na tentativa seguinte, o brinde parte como um míssil e vai direto ao rosto de um torcedor. Se pega no olho é capaz de deixar cego. Os homens gargalham animadamente. Mas o jogo precisa recomeçar e por isso ela sai da quadra – não rebola, mas é como se rebolasse.