S A P O S
Nada me parece mais melancólico que o coaxar dos sapos naquele instante em que o dia acena despedidas e a noite insurge-se sob céus de caqui.
Soa feito lamentos doloridos que se vão embrenhando entre as touceiras como a suplicar alguma forma de afeto.
Um choramingo de revolta contra a natureza que lhes predestinara tão somente a feiura de sapos.
Por vezes, ao ouvi-los em minhas andanças, sinto coaxar no peito aquele sapo que me habita.
Aquele! Que sonha com um beijo para transformar-se em príncipe.
Então, solidários, coaxamos nossas incertezas sob céus que vão parindo estrelas precoces.
[Enquanto a noite agasalha a cidade]
Joel Gomes Teixeira