Como era gostoso o meu francês


 
                        Devo dizer aos meus amigos e amigas, nas vésperas do Natal, época propícia a meditações mais profundas,  o que  mais me  fascina é pensar sobre o mistério da  vida.
                        E este tema aflorou em minha mente ao ler outro dia o “maluco”-  genial  Jabor. Inspirou-me para esta crônica, acrescentando minhas fantasias.
                        Em uma de suas crônicas, relembra o cronista o cineasta fantástico do passado que foi Humberto Mauro. Cineasta da década de 20/30, quando eu não imaginava que nasceria um dia. Pois bem, caros amigos, o nosso Jabor não falou da vida de Humberto Mauro, exaltado no Festival de Cannes como o maior cineasta da década de 30. Foi o grande inspirador do cinema novo e Glauber Rocha era seu fã incondicional. Falou de uma simples imagem.
                        E quero ressaltar  a imagem que Humberto Mauro fazia do cinema. Segundo o  Jabor, na época dele discutia-se muito  o que era, afinal,  o cinema.
                        E aí vem a história curiosa: os amigos íntimos do cineasta, que fez a versão em tupi do filme “Como era gostoso o meu francês” (fábula que conta a história antropofágica dos índios tupinambás), por coincidência ou não pediam a ele que filmasse uma cachoeira, o que ele nunca fez. Além do mais, nunca entendeu este pedido.  Em certo dia, porém,  depois do término de um filme, talvez o curta-metragem “Carro de Bois” (não resisto a minhas fantasias), ele chegou atrasado na estação de trem. E já ia correndo para apanhar o trem, que seguia para Volta Grande, sua terra natal, em Minas Gerais, quando um jornalista impertinente pergunta: - “Mauro, o que é o cinema?” E o nosso cineasta, com pressa e correndo para apanhar o trem, responde: - “ Cinema é cachoeira”.
                        Todos sabemos que a metáfora nos ajuda a entender melhor certos conceitos abstratos. A imagem clareia!  Meus amigos, já na antiguidade,  o imperador- filósofo Marco Aurélio disse que a vida era opinião. Nessa frase está a idéia da mudança, o que a imagem da cachoeira mostra com mais clareza. A ideia do movimento.  A água que flui constantemente e que vai levando tudo de roldão, nos tirando a dúvida do Gonzaguinha na música “o que é, o que é?” A vida é maravilha ou sofrimento?  É alegria ou lamento? É um nada no mundo? É uma gota? É um tempo que nem dá um segundo?
                        Estou com o Humberto Mauro. A vida, retratada pelo cinema,  é   a cachoeira. Eu modestamente  alertaria o leitor  que essa cachoeira, jorrando infinitamente essa água que não volta mais, tem contida nela a pedra escorregadia.  Apesar dos cuidados nas andanças pela vida,  todos nós, vez ou outra, ou muitas vezes,  tombamos nessa pedra...
                        Um feliz Natal para os amigos e amigas, com boas e melhores reflexões sobre a vida, comendo, com a devida licença dos vegetarianos e vegetarianas,  as carnes que o nosso Brasil oferece generosamente, com urucum e pimenta a gosto.

Gdantas