PALAVRAS JOGADAS AO VENTO
Jogarei quatro carocinhos de palavras fora, quem sabe assim, nessa hora, passe o vento e as derrube em terra boa. Tomara que caiam em solo fértil, germinem e se transformem em pés de textos maravilhosos para colorir esse mundo de meu Deus com mais poesia, mais versos cantados, mais prosas de fim de tarde ou medo de assombração.
Cada um tenha uma cor diferente da outra e na mistura nasça o colorido necessário para o embelezamento dos olhos: um pé poderia ter a cor de dias de chuva, sabe, aquela cor que faz a gente se alegrar e ter esperança de boa colheita, mesa farta, mata verde, muita animação e música de acalentar tempos de estiagem; outro poderia ter a cor da manhã nascendo no horizonte e de longe a gente já escutando o canto do galo, o aboio do vaqueiro, a dança das nuvens e toda insolação chegada a terra para torná-la vivinha da silva, com um festival de tons que enfeitassem as nossas esperanças e consolações. Já imaginou um pé de palavras versificadas no fundo do seu quintal da cor dos olhos fechados cheinhos de imaginação? Seria de querer viver sempre de olhos pregados um no outro e nunca mais abri-los de tanta coisa boa que se poderia imaginar e essa cor teria o nome de cordemaginação. A gente iria se divertir colorindo o nosso universo construído no fundo do nosso quintal com todas as nossas vontades de coisas boas e nada de ruim, nem o feio iria existir. Para descansar, a última cor poderia ser da cor do por do sol encontrado com o nascer da noite. Seria uma cor de sombreamento, presente em todas as demais cores e poderíamos, então, lamber os beiços e arregalar bem o coração com palavras de encantamento ditas nos olhares, apertos de mãos, trocas de carinhos, rabiscadas em pequenas mensagens enviadas ou postas dentro de bombons, ou quem sabe penduradas nos terreiros de nossas casas, em varais, presas com pregadores ou mesmo bordadas em fios de gratidão pelo ar, sopradas de dentro de nós para dentro dos outros e, apenas quatro palavras gostaria de jogar ao vento: coragem, força, trabalho e esperança.
Na mistura delas várias outras palavras poderiam ser atraídas e assim poderíamos ter uma tempestade de sementes lançadas para tornar a vida mais cheia de beleza. Na coragem encontraríamos força, pela força o trabalho e no trabalho a esperança de lançar ao vento quatro palavras e mais quatro palavras e várias outras palavra que pudessem encontrar solo fértil e germinar e produzir frutos, muitos frutos...
Jogarei quatro carocinhos de palavras fora, quem sabe assim, nessa hora, passe o vento e as derrube bem dentro do coração do homem e um novo homem possa ser germinado, de pensamentos puros e intenções renováveis, na perspectiva de que se possa criar uma sociedade sustentável, com menos mazelas e muito mais oportunidades de bem estar, solidariedade e cabível dentro do bolso da terra mãe necessitada de afago, frutos novos e nova humanidade, que a respeite, torne-a fecunda de frutos bons e bons tempos de honestidade, muita honestidade nos quatro caroços de palavras jogados fora....