Morreu Mandela. Perdemos o quê?
Morreu Mandela. Ele descansa agora. Não sofre mais.
A Africa não morreu, não tem descanso, não para de sofrer ataques de todos os lados, pelos cristãos, pelos muçulmanos, pelos ricos, pelos pobres. A Africa, poucos sabem, morre todos os dias, mas ninguém vê. Ninguém divulga, nem faz homenagem.
Mandela é a manifestação de um mito. Nunca morre na verdade. Assim como ele, tivemos muitos. Tivemos o alferes Tiradentes, o escravo Zumbi, Jesus de Nazareth, Judas Macabeu, Homero, Hércules, Muhammad, Abraão, Mahatma Gandhi, Sidhartha Gautama... Tantos outros, que encheriam páginas.
Esses representantes míticos da capacidade do ser humano de mudar as coisas, assim como Mandela, cada um em seu tempo, foram usados pela força transformadora latente na humanidade, que de tempos em tempos se manifesta, como se não fosse possível mais ser contida.
Mas a Africa, o Brasil, a Grécia, a Índia, o mundo todo é maior que seus heróis. Os homens são todos portadores, em maior ou menor grau, dessa capacidade de transformar-se e transformar o mundo ao seu redor. Resta saber o motivo pelo qual só um número muito reduzido de pessoas chega ao ponto de se entregar heroicamente por uma causa, na maioria das vezes, dando a vida em lugar de milhares, milhões. Por que motivo os milhões de redimidos não são capazes de agir como age um redentor? Não era ele nascido de uma mulher como todos nós?
Não perdemos nada com a morte de Mandela, pois ele fez o que tinha que fazer. E se perdemos algo, esse algo seria a oportunidade de imitá-lo, assim como a todos os mártires, todos os santos, todos os heróis, todos os cristos. Perdemos sim, todos os dias, a oportunidade de sermos como eles, de agir como eles, já que a oportunidade está aí, de igual forma para todos.
Todos os grandes homens eram, são e serão, acima e antes de tudo, homens, assim como eu, como você. O que os diferencia do resto da raça humana é a coragem de ser aquilo que manda seu coração, sua razão, sua humanidade.