Um olhar dentro do metrô
Quando olhei para aquele rosto perfeito, sua boca rosa em formato de coração, sem batom, pele limpa, não devia ter mais que dezessete anos, fiquei chocada ao olhar para baixo e perceber sua barriguinha de uns cinco meses, que pena... tanta coisa para viver, realizar, não que ela não fosse viver ou realizar, mas um filho é muita responsabilidade, deixamos de viver nossa vida por eles, isto quando somos mãe na plenitude da palavra, é difícil, mas a vida segue, alguns com juízo outros não. Acho que era umas setes horas da manhã e o metrô estava lotado. Passei a observar as pessoas ao redor e vi quando entrou uma moça, segurando no ferro, ela foi se aproximando, quando olhei para ela, escorreu uma lágrima tão intensa, tão sentida, caiu de uma vez, grossa, como se alguém tivesse aberto a torneira de uma vez, fiquei sem jeito, e desviei o olhar, achei que invadia seu mundo ao presenciar todo aquele sentimento, mas minha vontade era perguntar se podia ajudar, fazer o quê, é o meu jeito.
Meu Deus, como tem gente neste mundo, e acredito que elas vão todas para o metrô, bem cedinho, ficam escondidas e quando o trem se aproxima, aparecem do nada, umas correndo, outras na escada rolante só faltam saltar para não perder o lugar, e o metrô "coitadinho" não consegue vencer, chega vazio e sai lotado, mas o mais engraçado é tentar entrar, você entra sem ao menos tocar no chão e se bobear sai do outro lado, tamanha a força das pessoas tentando entrar de qualquer jeito.
Eu adoro ficar observando o comportamento delas, seu jeito, seu olhar, enfim até a ausência de uma alma, pois tenho a impressão que ali está somente a carcaça.
Tudo isto faz suas vidas sofrida demais, ninguém merece, é muito cansativo, desgastante, eles chegam acabados no serviço.
Outro dia, já tinha saído da estação, quando vi aquele rapazinho, deveria ter uns dezesseis anos, ele estava pedindo dinheiro, e se aproximou de mim, não disse uma palavra e nem precisava, quando olhei para o rosto dele, me deparei com os olhos azuis mais lindo deste mundo, um azul incrível, se ele não estivesse na rua, eu afirmaria que eram lentes de contato, mas na rua, não tinha como usar uma, e em seus olhos eu li o pedido de ajuda, então peguei uns trocados na bolsa e dei para ele e fiquei pensando naquele menino sujo e tão bonito. As pessoas são fracas, deixam se seduzir por coisas que podem destruir suas vidas, entram em canoas furadas achando que vão conseguir nadar até a margem, correm riscos por se acharem fortes, não agem com a razão.
Enfim ... vi todo tipo de pessoas, fazia tempo que não tinha todo este contato, é muito interessante.