BOI DE CARRO
Tarde, moço. É sou eu mesmo, mas pode me chamar de Tininho. Não, seu Tininho, não, só Tininho mesmo. É isso mesmo, moço. Vive eu, a velha e a minha filha mais nova, a Mirinha, lá dentro. Regula a idade sua, é moça boa, ta estudando pra professora lá em Itaperuna. É muito difícil mesmo, moço. Tem serviço pra mim? Ah, não? Então... Quer comprar o carro? Então, explique... Então o moço é doutor? Não? Mas se quer comprar o carro pro Museu? Ah! Professor... Mas, esse carro velho vai servir pra que no museu? Ah! Contar a história do Brasil. É... esse carro é velho mesmo: o avô do meu pai que fez pro meu pai, e o meu pai deu pra mim. Madeira que nem existe mais, moço. Cortaram tanto, que depois só chegava da Bahia, e agora dizem que lá também já secou faz tempo. Não, não vendo, não. Ah, os bois? O de fora é o mestre. Ele que ensina o outro o passo, a hora de puxar mais forte, a hora de dar uma paradinha, a hora de esticar direto subindo o morro, essas coisas... Vermelho e Carijó. É isso mesmo, é o Carijó. Não sei não, Professor... é muito dinheiro mesmo, mas quem ia fazer um carro bom igual esse? Foi meu avô que fez pro meu pai e o meu pai deu pra mim, e é madeira que nem existe mais. Carro igual esse não tem não. Eu sei, seu Professor, é pra contar a história do Brasil. Nossa! É muito dinheiro mesmo, seu Professor. Espera um minutinho. Ô, Mirinha, vem cá, minha filha! Esse aqui é o professor lá do museu, moço bom, regula a idade sua. Ele que falar com você, minha filha... (Acho que é coisa de casamento...) Ô, velha, faz café que tem visita!