REFLEXÃO DE SALA DE AULA

Mas o que é o docente?

Prepara aula, separa material, indica leitura, preocupa-se com o discente, discursa o período inteiro, promove trabalhos em grupo, busca desenvolver habilidades de socialização, busca desenvolver competências interativas através de metodologias ativas e participativas, enquanto o discente acha que a aula é uma chatice, prefere o celular ao conteúdo; prefere estar conectado no meio da aula a desenvolver atividades; se for uma leitura em grupo ou um exercício, ficar fora da sala, ir embora, deixar para fazer em casa é melhor...

Um trabalho passado no período de um mês, não se reúne com os colegas, não faz a leitura, não sabe dizer o nome do "boy", ou do "cara", nem se ele é brasileiro ou coreano, mas conhece todas as baladas, vaquejada, rodas de pagodes, barzinhos de fins de semana, as novas músicas tocadas nas rádios, todos os esquemas de "Aula vaga" e períodos de feriado na universidade...

O docente é exigente porque não alisa, avalia, diz a verdade, cobra, não aceita corpo mole. Caso o seminário não esteja bom, diz os pontos negativos, faz a avaliação escrita embasada na apostila que deixou na copiadora há mais de um mês, mas no dia da recuperação o discente não viu, não pegou, não leu, não sabe qual é mesmo o conteúdo, nem sabia se existia a "tal apostila". A culpa acaba sendo do docente porque não enviou via e-mail, ou não trouxe o material e distribuiu, ou ele, o discente, julgou que não seria importante, somente com o descaso que ele promove durante todo o período, no final de tudo vai ser recompensado...

O discente diz sempre que a universidade não forma, ela informa, que aqui é lugar de busca, de curiosidade, de tirar dúvidas, de socializar saberes, de promoção de diálogos, e o discente prefere o fundo da sala, construir um grupinho lá atrás porque não foi com a cara do docente, porque a voz é irritante, porque não entende ou não gosta do conteúdo e prefere não questionar, interrogar, interagir, fazer intervenções... O papeando.com@hot... ou qualquer um outro é mais tesão, menos chato ou coisa do tipo...

Docente bom é aquele ausente, compensa a falta através de um agrado, uma atividade fácil, coisa que discente nenhum tem de queimar neurônios para desenvolver. É aquele que é camarada: esqueceu o trabalho? Sem problema, pode trazer amanhã! Amanhã é uma nova surpresa, uma outra desculpa, um ônibus que quebra, um copiadora que faltou a tinta, mas o trabalho era em grupo de seis, oito, dez e nenhum dá conta de nada!

O docente é aquele que dó sente! Tem dó de si mesmo!

Tem dó de si pelos discursos ouvidos: "uma chance, por favor! "Juro que aprendi, agora vou mudar", "não posso ficar reprovado, sou bolsista", “só o senhor pode me ajudar, estou em suas mãos, meu destino vai ser decido pelo senhor”!, "professor, seja generoso", eu sou!

A generosidade consiste no ato de ter feito você perceber que perdeu tempo, que o tempo agora é outro, que o mundo da universidade é de construção de conhecimento sistemático, que o tempo que você perdeu deve ser compensado: se não estudou, não aproveitou, não pegou a apostila na copiadora, não produziu o trabalho como deveria ter sido feito, não valorizou a discussão em grupo, não foi grupo, foi pego com um papel resposta dado por um colega (cola), fez as escolhas erradas, agora é hora de se auto avaliar e...

O docente é generoso, mas não confunda, faça a fusão de bom senso com a razão, se no final do processo não deu certo, mude a estratégia, reconheça que não foi dessa vez, não se engane porque mais tarde, quando se coloca a poeira para debaixo do tapete, enquanto profissional você é abortado socialmente. Não existe lugar no mundo para quem está no mundo atrás de muletas ou subir à custa dos outros.

Marcus Vinicius