É um cartão de Natal

Chego em casa e encontro um envelope encostado à porta do meu quarto. Reconheço no remetente a minha dentista, e com isso desvendo todo o mistério: é um cartão de Natal. Bem simplesinho, como devem ser os cartões daqueles que têm muitos a enviar. Regozijo-me ao encontrar nele um boneco de neve, o que prova que não sou o único brasiliense que parece comemorar natais europeus. Há mais alguns motivos natalinos espalhados pelo cartão e no centro uma pequena mensagem – em itálico, como convém à época. O texto limita-se ao básico, desejando-me um feliz Natal e um próspero Ano Novo. Nenhuma referência carinhosa ao meu tratamento, nenhum elogio à dedicação com que tenho colocado elásticos boca adentro durante este ano. Afinal, quem me manda aquele cartão não é exatamente a dentista, mas o seu consultório. Até que é um cartão simpático, e provavelmente será o único deste ano. Obrigado, consultório.

Recebê-lo me fez pensar se as pessoas ainda mandam cartões umas às outras. Não digo acompanhado de presentes, mas só o cartão mesmo. Desses que precisam ser colocados dentro de um envelope e levados ao correio. E resolvi dar uma passada em uma papelaria para ver que tipo de cartões estão sendo feitos atualmente.

Logo de início notei a ausência daqueles cartões musicados, que um dia já foram divertidos. Há alguns muito bonitos, embora raramente o texto da mensagem coincida com a pessoa para quem você pensou em mandar. Muitos se esforçam para dizer as mesmas coisas de um jeito diferente. Tem aqueles que tentam fazer graça. E existem cartões cuja única mensagem é Feliz Natal em português, inglês, alemão, russo, finlandês, Deus sabe o que mais. Tenho amigos que moram longe, mas não tanto assim. Vários cartões não deixam muito espaço para você escrever a caneta a sua própria mensagem.

Mesmo assim, decido comprar alguns. É a minha concessão a essa história de que é preciso presentear no Natal. Mandarei a algumas pessoas – não ao consultório.

Henrique Fendrich
Enviado por Henrique Fendrich em 10/12/2013
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