Despedimento compulsivo
O despertador tocou como fazia todas as manhãs. Tânia espreguiçou-se, pensando que tinha mais um dia de trabalho pela frente.
Entrou no quarto do filho, dando um beijo e dizendo para se levantar que já estava na hora.
Foi para a casa de banho para tomar o duche, logo o filho iria precisar também e por isso teria que se despachar para liberar o lugar.Começou a preparar o pequeno almoço, e enquanto o tomava ia orientando o filho.Demanhã era sempre uma correria.Tânia era secretária, divorciada, e vivia para o filho. Chegou ao emprego pontual.
Antes de começar a trabalhar, ela tomava o café e relaxava um pouco para enfrentar o dia que tinha pela frente.Trabalhava na empresa há mais de vinte cinco anos.
Fiel e dedicada, acompanhara cada passo da empresa no seu desenvolvimento.
Tânia orgulhava-se de ser uma funcionária cumpridora e zelosa.
Naquela manhã, ela foi chamada ao gabinete do director, mas o assunto era outro.
Ele tinha uma proposta para lhe fazer, mas teria que o escutar com atenção !
Depois de o ouvir muito calmamente, respondeu-lhe que estava fora de questão analisar e muito menos aceitar tal proposta.
Ele queria dispensá-la arbitrariamente, substituindo-a por mais nova e mais permissiva a certos caprichos hierarquicos!
Quando chegou ao seu gabinete, Tânia deu asas ao pranto, chorando, gritando e barafustando convulsivamente.
Num ápice, ganhou coragem e pensou que a melhor forma de se recompôr era entregar-se de corpo e alma ao seu trabalho, como sempre o fizera.
No íntimo, dizia que quanto mais se esforçasse, mais depressa esqueceria a " proposta " do seu director !
Entretanto, os dias foram passando e Tânia tinha cada vez menos que fazer.
Um dia chega ao gabinete e encontrou apenas uma cadeira para sentar-se.
Foi uma explosão de sentimentos em poucos segundos.
Sentia-se indefesa!!Estava destroçada ! Recorreu ao director, mas a proposta feita por ele mantinha-se de pé.
Deixou de dormir, ficou apática e abúlica.
Não queria acreditar ! De um momento para o outro, a sua vida ruira completamente !
Sem dar por ela a depressão tomou conta dela. Impossível trabalhar naquelas condições. O médico obrigou-a a repousar-se em casa e receitou-lhe alguns medicamentos!
Quando se sentia melhor ia para a empresa!
Lutou três anos contra tudo e contra todos, mas a pressão foi mais forte : venceu-a !
Tânia aceitou a proposta e foi-se embora, largando alí uma vida de trabalho e de zelo ! Quantas vezes deixou de viver para dar prioridade à sua profissão ! Num segundo o chefe jogara tudo no lixo, como se de um inútil e desprezível papel amarrotado se tratasse !
Casos como o da Tânia infelizmente há-os aos milhões, neste planeta cada vez mais global e menos humano, porque no mundo do trabalho passou a imperar a lei da selva !