No caixa do mercado
Com uma cesta cheia de mercadorias, eu me detinha analisando qual era a menor fila para pagar. Por fim escolhi uma em que havia apenas uma mulher à frente. E que não estava comprando nada, apenas fazendo recarga no celular – aparentemente no celular de toda a família. Acabei desistindo e procurando outra fila, onde, por sorte, não demorei a ser atendido. A caixa era uma jovem bonita com os seus 21, 22 anos. Pareceu-me bastante simpática e esforçada. Teve muito trabalho com o leitor de código de barras, que não lia o produto direito. Sem querer, passou duas vezes o meu iogurte. Isso causa um problemão, porque não é qualquer um que pode cancelar um produto. É preciso chamar alguém com senhas, chaves e segredos. A caixa pediu desculpas pela demora e eu tentei mostrar que não estava aborrecido. Resolvido o problema, consegui finalizar minhas compras. Ou quase. Porque ela não tinha duas notas de dois que precisava me dar como troco. E lá foi a caixa chamar alguém para trocar o dinheiro.
Se ela fosse uma pessoa grosseira, como de vez em quando encontro nos supermercados, provavelmente eu já estaria irritado. Mas eu havia gostado daquela moça, em quem passei a reparar melhor enquanto esperava. Vi um anel de compromisso em seu dedo. Será que um caixa de supermercado ganha o suficiente para casar? Perguntei-me o que significava para ela estar nesse emprego. Não imagino que seja o sonho de alguém. O que será que ela espera fazer durante a vida? Ela deve saber fazer alguma coisa muito bem, só que ainda não deram uma oportunidade. Eu próprio, cansado por não encontrar emprego algum na minha área, já pensei em largar tudo e ir trabalhar no mercado da esquina. Caso isso acontecesse, é possível que eu fosse exatamente um desses caixas grosseiros de quem hoje reclamo. E, no entanto, aquela moça em especial era a simpatia em pessoa.
Recebi, enfim, o dinheiro, mas depois achei que devia ter ido embora sem ele. Há caixas que bem merecem uma gorjeta.