Paz no Futebol?
 
O futebol, em seu âmago, estimula e vive o conflito. São facções que se defrontam querendo vencer, pisar, arrasar e superar o adversário. Na ilusão, prega-se a paz no futebol, nos esportes, como se o ser humano, atavicamente preso à sua condição beligerante, pudesse se desarmar e amar o adversário.

Comportamentos violentos das torcidas refletem a violência que habita cada um, diuturnamente, em nossas relações sócio-pessoais. Não se vence a violência pregando-se a ilusória ¨paz no futebol¨. Os esportes em geral, e o futebol, neste particular, estimulam a disputa, o conflito, a superioridade do Ego de um em detrimento dos outros. Quando se supera a necessidade de vencer o outro, percebe-se o qual pueris se tornam essas práticas, esses ¨esportes¨ que não educam para o crescimento moral-espiritual do homem.

Exigir um comportamento racional, civilizado, de pessoas que são estimuladas por clubes, pela mídia, pela própria forma do torneio em que somente haverá ¨um¨ vencedor, soa tão ilusório quanto o desejo de que inimigos em campos de batalha se beijem e distribuam flores ao invés de tiros.

Coloca-se a ¨conquista¨ como algo que defina a própria essência do existir e o futebol exalta de tal forma o ¨ego¨ que não se diz torcer para esse ou aquele time, o torcedor afirma: Sou Tal Time. Ele se confunde com a facção que defende, exacerba-se, funde-se ao escudo do clube e perdido está quem o ofenda.

A reversão dos quadros de violência em campo não será facilmente combatida, enquanto a essência for o desejo de vitória acima da vivência do prazer da disputa. A sabedoria do Barão de Coubertin já nos alertara para o ¨importante é competir¨, um princípio que se esqueceu estando perdido na galeria honrosa dos grandes ideais nunca concretizados.

Endeusa-se os ídolos do futebol e paga-se mais aos mesmos do que seria de fato necessário. Enquanto a inversão de valores continuar, enquanto os patrocinadores exigirem o sangue nas conquistas para elevar sobre outras as suas marcas, enquanto o desejo de superar e massacrar o adversário predominar, as arenas futebolísticas, vez ou outras serão manchadas por sangue. Continuamos bárbaros a frequentar os modernos Coliseus, continuamos a cultivar nossos Egos, nossos conflitos e a nos bater uns contra os outros e depois querem paz? Presenteie-se e valorize-se o espetáculo, puna-se com a expulsão em campo qualquer tipo de falta, mesmo a de menor gravidade sendo imediatamente cobrado um pênalti e se verá uma mudança brusca na primazia do jogo. Valorize-se a arte em campo, o toque de bola, o capricho no drible e expurgue-se toda a violência dentro das quatro linhas e o futebol terá uma chance de se tornar o que deveria ser: um espetáculo!

(Jurandir Araguaia é escritor goiano, palestrante motivacional espiritualista, ex-fiscal-ambiental/Goiânia, Auditor-Fiscal/Go, formado em Adm. de Empresas e Ed. Física. Site: www.jurandiraraguaia.com)