O amor desejado

O amor desejado

Se todos bem soubessem, jamais sonhariam com o amor, porém, prefeririam acordar com o desejo. O amor é sublime e sublima o corpo; é vegetariano, não come carne e, quando come, não se farta. O desejo se empanturra e come, a prato cheio, toda a comida do menu.

O amor suspira e o desejo geme.

O amor foi feito pela metade e procura a metade para se completar.

Precisa de promessas e reafirmações em frases feitas;

busca uma eternidade;

espera sempre o perdão;

sonha.

O desejo é egoísta e busca se saciar e se saciando, saciam-se.

nele o momento é já e não precisa de dar satisfação;

há o profano no corpo e na mente;

o cansaço do quero mais;

pecado.

O que estragou o amor foram as regras estabelecidas, as normas inventadas e regulamentos para purificar a vontade. As etiquetas propostas pelo amor metrificaram a sede e a fome do corpo e fizeram a pele viver em eterno regime de satisfação. O desejo quebra protocolos e entra nu em festa de smoker. É mal educado na cama e na mesa e usa todo o léxico calão para seduzir. Não olha para os lados para atravessar a vida e não tem medo de ser atropelado pelas emoções.

O amor ruboriza e o desejo sua.

O amor pede, o desejo pega.

O amor sonha, o desejo sente.

O amor veste, o desejo despe

Diferente do amor, o desejo não aceita intervalos de felicidade e, tampouco, se contenta com banho-maria. Ele quer se escalpelar no fogo ardente da vontade e se bronzear com os carinhos febris do enlace corporal.

Enquanto o amor jura fidelidade entre lençóis de seda e roupas de grife para o aconchego plácido do leito e faz planos de futuro e esquece o instante; o desejo tira a roupa do pudor e mostra a sua virilidade..

O desejo goza sem se condenar.

O amor peca por não se profanar.

O desejo não escolhe lugar.

O amor quer se esconder.

O desejo quer o amor, mas o amor, nem sempre deseja o desejo.

O amor quer casar, casa, ser cônjuge e dizer é meu ou minha.

O desejo quer estar no boteco; quer a espelunca e a ressaca; as olheiras e os bocejos.

O Desejo quer ser ultrajado no íntimo;

quer a mão inquieta;

quer o olhar de fome.

O amor tem todo o tempo para viver e, por isso, não se preocupa com o logo. Vive de prestações de felicidade e compra, a prazo, momentos de prazer. Já, o desejo, esse quer o imediato e é perdulário de frivolidades. Gasta o que tem e o que não tem, tudo para satisfazer a satisfação.

No dia em que o amor entender o desejo e o desejo aprender com o amor, decerto, descobrir-se-á um novo sentimento e as emoções vividas, até agora, ficarão obsoletas, pois não haverá mais isso ou aquilo, porém, vidas.

Mário Paternostro