A volta da Missa
             tridentina?




          Alcancei o tempo em que a Santa Missa era celebrada em latim e o padre a rezava "versus Deum", ou seja, voltado para Deus, mas de costas para os fiéis.
          Se não me engano, somente em três momentos o sacerdote, com paramentos pesados, virava-se para o distinto público: no Dominus vobiscum, na distribuição da Eucaristia, da comunhão, e no Ite missa est, avisando que a missa havia terminado.
          E os fiéis - nunca entendi por que - respondiam em voz alta: Deo gratias, ou seja, graças a Deus.
          Em algumas igrejas, nas missas solenes, festivas, o Cantochão era entoado em grande estilo. E nas missas comuns, os benditos eram piedosos; um "canto oração", como bem colocou Adélia Prado, em belo artigo sobre a celebração da Eucaristia.
          A liturgia não permitia cantos que, de repente, levassem a assembleia a transformar a igreja num barulhento salão de baile.
          Era a Missa tridentina que seguia, rigorosamente, as normas litúrgicas do Missal Romano. Um ritual, portanto, bastante conservador.
          Aí veio o Concílio Vaticano II (1962-1965) e mudou  a maneira de celebrar missa. Por exemplo: o latim, língua oficial da Igreja, foi substituído pelo idioma de cada país e o padre passou a rezá-las "versus populum", quer dizer, virado para o povo.
        E 
assim, a Igreja de Roma tem, nas últimas décadas, oficiado a missa que, para Adélia Prado, "é como um poema". E enfatiza a poetisa mineira: "A missa é a coisa mais absurdamente poética que existe."
            Quando tudo parecia resolvido pelo Concílio sobre como rezar missa, eis que surgiu a Carta Apostólica Summorum Pontificum (A preocupação dos Sumos Pontífices) regulando "a possibilidade do uso da liturgia tridentina", até então tida como superada.
               A Summorum Pontificum é assinada por um dos maiores e mais acreditados teólogos da atualidade, o Papa emérito Bento 16, e foi promulgada em 7 de julho de 2007. 
     Até onde sei - posso estar redondamente enganado -, a Summorum Pontificum, entre outras coisas, libera o uso do latim nas missas, podendo o celebrante adotar a posição versus Deum, ficar de costas para o rebanho.
               Os jornais de Salvador estão noticiando que missa seguindo o rito tridentino está sendo rezada na capital baiana; e que já conta com elevado número de participantes.
E mais: que a celebração teria a bênção do culto Dom Murilo Krieger, Arcebispo de Salvador, Primaz do Brasil. 

               Creio sinceramente que a missa jamais voltará a ser rezada em latim, e com o celebrante de costas para suas ovelhas.
               Sem nenhum saudosismo ou exacerbado conservadorismo, confesso que a Missa Tridentina muito me agradava; e até me trazia uma dose maior de devoção.
               Mas o mundo mudou ( e como!) e com ele, a missa. Sua modernização é irreversível.
               O que desejo - e sobre isso tenho me manifestado publicamente, sem rodeios -, é que, depois de determinadas celebrações litúrgicas, como disse Adélia, não "saia da igreja com vontade de procurar um lugar para rezar." Ok?  
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 08/12/2013
Reeditado em 22/10/2020
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