ÁGUA BENTA
Por Carlos Sena

 
Queria escrever um texto curto como a vida. Ou longo como a eternidade. Mas, entre a brevidade da vida e o desconhecimento da eternidade, fico com o ermo da vida que nem sempre nos satisfaz, mas nos compras nos encantos das suas fagulhas de felicidade. O ermo da vida nos dá possibilidades de ser fértil em nossos desertos; de ser desertos em nossos “eus” perdidos nas esquinas imaginárias da ilusão. Para a ilusão, em seus incertos caminhos, resta ser túnel sem tempo para que se seja a luz. E, em cada facho de luz, um halo de sabedoria para recompor os nossos ontens que ficaram escondidos por falta de chance de acontecer.
Por isso, queria escrever. Independente de ser uma prosa curta ou eterna, mas com ternura em cada tilintar dos dedos escorregando sobre os teclados do notebook como se cada “toque” fosse um recado a nos dizer “água mole em pedra dura tanto bate, mas nem sempre fura”... Porque da água que o corpo banha não se extrai os pecados que o espírito concede por absoluta intromissão. Tampouco a água benta exorciza os demônios que nos cutucam quando o corpo acorda e, perverso, nos pede sexo. Perplexo é o momento solitário do prazer, mesmo que seja na solidão das nossas inquietas mãos. Porque vão é destino dos fracos e fracos são aqueles que se simulam fortes querendo ser da vida a eternidade mesmo tendo certeza do quão ela é passageira.