Esperança !
Paro sob a tarde bucólica em meu quintal, olhando a grama reverdecer orvalhada pela garoa pueril de um dia cinza. Vejo-a ornada com flores sem cor pós o desaguar da primavera, e apeno-me. Então ponho os tons vivos do que há escondido cá dentro, aquarelando o horizonte que me envolve, debruçando lágrimas sem tempo em cada maravilha que se põe a volta. Mas não há lamentos pelo que não há, embora o cantar do passaredo nos convide à lamúria de um entardecer inóspito e solitário, não há! O que se detém nessa espera observatória é apenas a incompreensão de um mundo invisível, fugindo dentro de cada peito com a violência dos sentimentos que constroem o próprio ser, muito embora o que há de certo mesmo por esse cenário aparentemente inofensivo, é o não haver o que se quer que haja. E neste retrato que se derrama sob os olhos, o lacrimejar é o tom sereno da melodia de um momento passageiro, em que se faz preciso dedilhar as notas rabiscadas no cantarolar dos pássaros, no gemer da alma, no ritmo do silêncio... Somente assim a sinfonia passante do ser que eu guarneço não será entornada com a tristeza que me espreita neste instante perecível, mas sim, consumada será como a esperança germinada ante o calor de um sol altivo, nas cores de um sonho que um dia poderei eternizar.