PRESIDENTE TEM QUE SER MACHO

Entre umas e outras – todas, melhor dizendo –, a conversa rolava solta no bar da Bentinha. Ali, não tem assunto tabu. Nunca teve. É um espaço democrático, embora não se possa dizer o mesmo de muitos de seus frequentadores – alguns adeptos juramentados da filosofia do “prendo e arrebento”.

No bar da Bentinha, todos os temas são tratados com convicção e veemência. Pouco importa se os conhecimentos dos debatedores acerca das matérias em discussão são pífios. Cada um fala e repete o que lhe dá na telha. E o que é melhor: ninguém precisa arcar com as consequências. Naquele final de tarde, começo de noite, as discussões tinham a política como foco, por conta da morte mais que anunciada do caudilho venezuelano.

-- O homem morreu – afirmou, consternado, Vicentinho, o mais mirrado e politizado da turma.

-- Que homem? – quis saber Mundo da Lua, o mais avantajado e alienado de todos.

-- Caracas, Mundo. O Chávez, Hugo Chávez, presidente da Venezuela. Chávez se foi.

-- Esse cara não era de Cuba?

-- Mundo, o de Cuba é Fidel Castro – explicou Vicentinho, com uma pitada de irritação.

-- É verdade. Esse também já morreu. Eu li nos jornais.

-- Morreu nada, homem. Está vivo. Está mal, mas está vivo.

-- E você está chateado por que o homem morreu? – perguntou Mundo da Lua.

-- Claro. Chávez era o cara: valente, não mandava recado, dizia na lata o que tinha que dizer. Chamou o presidente dos Estados Unidos de “diabo”. Só não pegou ele de pau porque os seguranças não deixaram. Na ONU. Desafiava todo mundo. Era socialista, queria o bem da humanidade, menos dos americanos. Destes, ele nunca gostou. Defendia com unhas e dentes seu país, seu povo. Vai fazer falta, vai fazer falta.

-- Mas era um ditador – retrucou Mundo da Lua, num raro ataque de lucidez.

-- Ditador coisa nenhuma. Ele não tinha paciência com políticos. É diferente. Se enchessem muito o saco dele, era capaz de mandar fechar o Congresso. Para que serve aquilo? Pra nada. Só pra gastar o dinheiro do povo pobre. Também mantinha a Justiça com rédeas curtas. Onde muita gente dá palpite, a coisa não funciona. O Brasil precisa de um Chávez, de um patriota, que salve este país.

-- Caramba, e o Lula, não é bom?

-- Mundo, Lula é frouxo. Em vez de fechar o Congresso, mandou dar mesada pros caras. Pode uma coisa dessas? Um homem que faz isso é macho? Chávez mandava todo mundo para o paredão. Com ele, não tinha conversa mole. O Brasil precisa de um cara que dê um murro na mesa e diga assim: “Olha aqui, minha gente: quem não seguir a nova cartilha vai ver o que é bom para a tosse”. Aí, endireita.

-- É verdade, Vicentinho. É por isso que gosto de conversar com você. Sempre aprendo coisas novas. Vai mais uma? (março/2013)

(orlandosilveira1956.blogspot.com.br)

Orlando Silveira
Enviado por Orlando Silveira em 07/12/2013
Código do texto: T4602145
Classificação de conteúdo: seguro