Elas, de Manoel Jaime
É um filme diferente, rodado dentro de um carro em movimento. O espectador, sempre à janela, olha, tanto de fora do carro como de dentro para fora dele, ruas, gente, coisas, casas e, na natureza, o exótico Irã. Trata-se de um filme urbano, com problemas tão iguais aos daqui como é o caso do machismo e, sobretudo, na classe média, do trato às mulheres na desconstituição da família, dos fins de namoro ao começo de desilusões ou novas ilusões. Em “Dez”, quem viu “Gosto de Cereja” não acha ruptura na obra de Abbas Kiarostami; seus filmes seguem um mesmo fluxo: originalidade e busca de imagens; nos diálogos de rua, o dia a dia na sua expressiva linguagem cultural. Conduz o carro a bela Mania Akbani com seu “filho” Amin, acompanhada sempre por “elas”.
“Elas, de Manoel Jaime”, ilustrado por Flávio Tavares, prefaciado por Marília Arnaud, com orelha de Anísia Arcoverde, não é uma obra diferente desse filme quanto à beleza e à originalidade. Contudo, fora do carro, andando a pé ou nos cafés, Jaime encontra, vê, observa, dialoga com elas e também consigo mesmo; em todas as circunstâncias, distingue as mulheres que são a grande maioria e o outro lado da humanidade. Individualiza essa humanidade em cada Irina, em cada Margot, em cada Maaza, em cada Maria, enfim, em todas as mulheres que descreve, nas angustiantes vicissitudes ou nos momentos felizes.
Cada página afirma que o amor não morre, ausenta-se, o que se constata nos desejos e nas atitudes delas; nas diferenças entre ágape, “philia”, eros, paixão, ciúme, amor romântico ou platônico. Até se percebe também a “objetificação” kantiana, segundo Simone de Beauvoir; porém, não tanto o feminismo acadêmico de Martha Nussbaum. Mas é bom que se diga que Nussbaum é neokantista e propôs, como Kant, “uma nova ética para o sexo”. Em Jaime, o amor se propõe em todos os sentidos, de todas as épocas, desde que seja amor, vivenciado por cada uma delas, sendo cada maria outra história. Esse livro não citou “as mulheres de Atenas”, com exceção da mitológica Pandora; nenhuma com o nome de Aspásia, esposa de Péricles, cortesã e intelectual que dialogava com os discípulos de Sócrates, exemplo de substituição do eros pelo prazer do “intelecto”. “Elas” é um livro rico, suscita ideias, já implícitas, a quem o lê. Sobre tais ideias, esperamos que alguma delas escreva sobre eles...
É um filme diferente, rodado dentro de um carro em movimento. O espectador, sempre à janela, olha, tanto de fora do carro como de dentro para fora dele, ruas, gente, coisas, casas e, na natureza, o exótico Irã. Trata-se de um filme urbano, com problemas tão iguais aos daqui como é o caso do machismo e, sobretudo, na classe média, do trato às mulheres na desconstituição da família, dos fins de namoro ao começo de desilusões ou novas ilusões. Em “Dez”, quem viu “Gosto de Cereja” não acha ruptura na obra de Abbas Kiarostami; seus filmes seguem um mesmo fluxo: originalidade e busca de imagens; nos diálogos de rua, o dia a dia na sua expressiva linguagem cultural. Conduz o carro a bela Mania Akbani com seu “filho” Amin, acompanhada sempre por “elas”.
“Elas, de Manoel Jaime”, ilustrado por Flávio Tavares, prefaciado por Marília Arnaud, com orelha de Anísia Arcoverde, não é uma obra diferente desse filme quanto à beleza e à originalidade. Contudo, fora do carro, andando a pé ou nos cafés, Jaime encontra, vê, observa, dialoga com elas e também consigo mesmo; em todas as circunstâncias, distingue as mulheres que são a grande maioria e o outro lado da humanidade. Individualiza essa humanidade em cada Irina, em cada Margot, em cada Maaza, em cada Maria, enfim, em todas as mulheres que descreve, nas angustiantes vicissitudes ou nos momentos felizes.
Cada página afirma que o amor não morre, ausenta-se, o que se constata nos desejos e nas atitudes delas; nas diferenças entre ágape, “philia”, eros, paixão, ciúme, amor romântico ou platônico. Até se percebe também a “objetificação” kantiana, segundo Simone de Beauvoir; porém, não tanto o feminismo acadêmico de Martha Nussbaum. Mas é bom que se diga que Nussbaum é neokantista e propôs, como Kant, “uma nova ética para o sexo”. Em Jaime, o amor se propõe em todos os sentidos, de todas as épocas, desde que seja amor, vivenciado por cada uma delas, sendo cada maria outra história. Esse livro não citou “as mulheres de Atenas”, com exceção da mitológica Pandora; nenhuma com o nome de Aspásia, esposa de Péricles, cortesã e intelectual que dialogava com os discípulos de Sócrates, exemplo de substituição do eros pelo prazer do “intelecto”. “Elas” é um livro rico, suscita ideias, já implícitas, a quem o lê. Sobre tais ideias, esperamos que alguma delas escreva sobre eles...