NOSSO ADEUS A MANDELA...

Por Mathias Gonzalez

O dia 05 de dezembro de 2013 será uma data tão marcante como foi a do dia 11 de fevereiro de 1990 quando o prisioneiro político de número 46664, o líder ativista negro Nelson Mandela foi finalmente solto após 27 anos de prisão. Uma multidão o aclamou, respondendo quando no gesto de luta ele ergueu o punho fechado. Ele disse naquele memorável dia: "Quando me vi no meio da multidão, alcei o punho direito e estalou um clamor. Não havia podido fazer isso desde há vinte e sete anos, e me invadiu uma sensação de alegria e de força."

Estive em Johannesburg - África do Sul, em 2005, cerca de 12 anos depois de Mandiba (apelido carinhoso dado a Mandela) ter sido eleito como o primeiro presidente negro do país mais racista do mundo. Durante muitos séculos, desde a colonização holandesa e inglesa, a maioria da população sul africana fora esmagada, espezinhada e impedida de se desenvolver pela minoria branca que tinha em suas leis o regime de “apartheid” – que nada mais era que:

a) não permitir aos negros nativos ou não andarem a noite em certas ruas da cidade;

b) não entrarem nos mesmos transportes públicos que os brancos;

b) não terem direito a votar em nenhuma eleição;

c) não terem direito à instrução superior;

d) ficarem com os piores e mal remunerados empregos do país num regime de semi-escravidão;

e) o sexo entre pessoas brancas e negras era proibido;

f) não havia bibliotecas ou piscinas públicas para negros;

Haviam outras proibições absurdas impostas pelo Governo. O Regime do Apartheid seria equivalente a se um dia desembarcassem no Brasil, tropas estrangeiras fortemente armadas e nos transformassem em escravos, sem direito a quase nada. Os invasores tomariam os nossos recursos, (ouro, pedras preciosas, petróleo, agricultura e pecuária) nos imporiam restrições de locomoção, nos impediriam de circular livremente em nosso próprio país e para completar, qualquer um que se rebelasse contra isso seria preso, torturado ou morto pelas tropas invasoras.

Pois foi contra o regime do “apartheid” que Nélson Mandela lutou, foi preso e sentenciado a prisão perpétua. No entanto, mesmo na prisão ele continuou lutando como pode para derrubar o regime que escravizava o seu país. Mandava cartas codificadas para pessoas no mundo inteiro, chamando para se juntar a causa do povo Sul Africano. Pouco a pouco o mundo respondeu ao clamor de Mandela e dos africanos oprimidos no próprio país. O final feliz todos já conhecem. O país em poucos anos se transformou e despontou-se como a mais moderna e promissora potência econômica do continente Africano.

Comprovei isso andando pelas ruas de Johannesburg, depois de ter andado pela ruas da velha Soweto, campo de grandes batalhas dos tempos idos do "apartheid", onde Mandela plantou as sementes do bem e da tolerância. Andei misturado ao povo de pele negra luzidia, dentes alvos e um sorriso no rosto como a enxergar esperança permanente no horizonte avermelhado do poente.

Vi velhos e crianças dançando nas ruas a pleno sol do meio dia e indaguei a um velho negro Zulu de cabelos brancos e encarapinhados: "por que essas pessoas dançam e cantam em pleno sol ?" Ele sorriu e me respondeu com seu inglês solene misturado ao sotaque da sua tribo: "eles dançam e cantam a liberdade... mesmo sob o sol inclemente do meio dia, viver livre é melhor que viver à sombra como um prisioneiro... eles estão celebrando a própria liberdade..."

Sorri e senti vontade de cantar e dançar sob o inclemente sol do meio dia com aqueles homens-meninos. Estava definitivamente na velha Mama África aborígene, berço do mundo. Ali o homem é mais forte, mais rústico e mais sábio e por isso resiste tanto ao progresso. Naquele país, gigantes do tamanho de Nelson Mandela e Bispo Desmond Tutu, erigiram uma nova consciência que permanecerá como marca pela eternidade. Mandela, mesmo condenado, não condenou, mesmo discriminado não discriminou, mesmo ofendido na sua essência, não se deixou contaminar e ofereceu o perdão para todos, quando subiu ao poder tornando o primeiro presidente negro em 400 anos de escravidão, num país de negros massacrado por egoístas brancos.

Em 1993 Mandela e seu antecessor, presidente De Klerk são agraciados com o Prêmio Nobel da Paz. Em seu discurso Mandiba assinalou: "O valor deste prêmio que dividimos será e deve ser medido pela alegre paz que triunfamos, porque a humanidade comum que une negros e brancos em uma só raça humana teria dito a cada um de nós que devemos viver como as crianças do paraíso".

Em seu discurso ao tomar posse da presidência do seu país Nelson Mandela disse: "Ninguém nasce odiando outra pessoa por causa da cor de sua pele, da sua origem ou da sua religião. Para odiar, é preciso aprender. E, se podem aprender a odiar, as pessoas também podem aprender a amar."

Mandela deu um grande exemplo de tolerância, de perdão e amor ao próximo. São desses novos Cristos que a humanidade precisa. É por meio de homens e mulheres com tal capacidade de abnegação de não-vaidade que se reconstrói a humanidade e devolve-lhe o lugar de cabeça da Criação.

Mathias Gonzalez é psicólogo e escritor.

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