Queda de energia.

Quase nove da noite. Eu já deveria estar em casa há aproximadamente duas horas, mas, ao contrário do que pensam, se formar em Medicina não significa ter uma vida fácil e cheia de glamour. O plantonista atrasou e eu acabei me comprometendo em atender os pacientes que chegavam à emergência. Tudo bem, eu poderia estar dormindo em casa, mas não me sentia mal por ter ficado: eu estava salvando vidas.

Saí do hospital às pressas e, como não sabia que estava chovendo, me molhei completamente no caminho da porta de saída até o estacionamento. Entrei no carro o mais rápido que pude e fui dirigindo na velocidade máxima permitida, escutando apenas o som da chuva que caía pesadamente na cidade e a voz do Jason Mraz cantando “I Won’t Give Up” no aparelho de som.

Perdi uns bons vinte minutos atrás de uma fila de carros – o que não era nada anormal, já que estamos falando de São Paulo. O trajeto do hospital até o prédio onde eu morava costumava durar pouco menos de meia hora, mas o trânsito sempre dava um jeito de me deixar mais tempo fora de casa. De fato, cheguei em mais de quarenta minutos, e meus pés doíam quando saí do carro e o deixei na garagem.

Eu estava prestes a chamar o elevador quando o porteiro disse que, graças a uma queda de energia que havia acontecido naquela tarde, os elevadores não estavam funcionando e alguns apartamentos ainda estavam sem luz. Ótimo! Subir até o oitavo andar pela escada depois de passar o dia correndo de um lado para o outro… bem, eu não contava com isto.

Fui subindo aos poucos e estava quase totalmente sem ar quando enfim cheguei. Andei a passos lerdos até a porta e coloquei a chave na fechadura, girando-a em seguida e girando também a maçaneta. Empurrei a porta e, assim que a abri, logo notei que estava tudo escuro. Bem, Luiz não era do tipo que gostava da escuridão, então nós provavelmente estávamos sem energia elétrica. Mesmo assim, tateei às cegas em busca do interruptor e senti uma mão quente pousar sobre a minha quando tentei acender a luz.

- Pensei que ia dormir no hospital logo na noite em que resolvi fazer uma surpresa para você – a voz dele invadiu meus ouvidos. – Deixe-me ligar a lâmpada de emergência.

- O porteiro não avisou que eu liguei? – franzi o cenho.

- Avisou, mas não pensei que fosse demorar tanto – ele deu uma risada boba. – De qualquer forma, o que importa é que você chegou.

- Ensopada, mas cheguei – encarei-o. A luz emitida pela lâmpada de emergência não era das melhores, mas eu podia enxergar perfeitamente a expressão relaxada dele. – Não vai me contar qual é a surpresa?

- Cheguei cedo da clínica e resolvi fazer sua comida favorita. Pensei em fazer um jantar à luz de velas e a queda de energia até colaborou.

- Que amável! – sorri e afaguei o rosto dele. – Não quero parecer inconveniente, mas… tem algum motivo específico para este jantar?

- Aham – ele assentiu. – Amor. Este é o motivo.

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Lillian Cruz
Enviado por Lillian Cruz em 06/12/2013
Reeditado em 06/12/2013
Código do texto: T4600620
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