AGENDA DE UMA APOSENTADA

Seis e trinta da manhã, celular não desperta e eu acordo assustada lá pelas nove com a certeza de ter perdido um dia de trabalho. Ainda bem que os neurônios são rápidos ao enviar informações e me dou conta que nunca mais terei de acordar com aquela musiquinha irritante, arrastar o corpo para fora da cama, olhar no espelho e pensar que terei só meia hora para consertar cara e cabelo e ainda tomar o chimarrão, pois sem ele eu não me desfaço do burrinho matinal. Feliz porque são apenas nove horas, logo adormeço novamente nos braços de Morfeu.

Meio-dia, não tenho fome e não sou obrigada a engolir rapidamente a comida porque preciso passar no Banco, pagar uma conta, comprar alguma coisa numa esmirrada uma hora de intervalo. Chega de intervalos, adeus pressa, chega de corre-corre. Neste momento me dou conta que me desfiz, sem perceber, do Omeprazol, do Sedalex e do Ibupril, porque as dores lombares, musculares e os meus ares se foram milagrosamente. Vez ou outra um Rivotril e cá estou eu descansada e livre das ansiedades que me assaltavam nos últimos tempos. Uma tarde inteira e embora o tempo passe, sei que eu passo melhor. Até me dou o direito de uma sesta diária!

Dezoito horas, não sou obrigada a estar com unhas e cabelo em dia, posso deixar para amanhã, que amanhã será outro dia e eu não preciso, necessariamente, estar impecável. Afinal o dia é só meu e posso fazer com calma tudo o que era obrigada a fazer a jato. Um bom chimarrão, cabeça descansada, inspirações que brotam e nasce uma nova crônica.

Vinte e três horas, mostro a língua para o relógio e digo com todas as letras: deu prá ti, agora não és mais dono do meu tempo, não sou mais tua escrava, não tenho que dormir agora e vou ficar, sim, vou ficar até madrugada navegando na Internet ou lendo um bom livro, porque a noite, sem o barulho característico do dia, é mais propícia à concentração e ao deleite da leitura.

Três horas da madrugada, me espreguiço demoradamente, olho para a cama que me convida insistentemente e penso, feliz: até que enfim tenho todo o tempo do mundo!

Giustina
Enviado por Giustina em 06/12/2013
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