ATIRE A PRIMEIRA PEDRA
     
     Certamente, sofrerei o ataque mordaz da crítica com o texto que ora publico. De início, quero deixar claro que não sou a favor da corrupção, dos gastos indevidos do dinheiro público e de outras falcatruas nas quais se envolvem muitos de nossos políticos.
     Entretanto, inspirada  num natural sen
timento de indignação contra todo o sistema político, econômico e social que nos cerca, me vejo obrigada a infringir um dos ensinamentos religiosos de minha mãe, baseado nos Mandamentos de Nosso Senhor Jesus Cristo: “Não cobiçar as coisas alheias”.
     Do alto do prédio onde moro, olho desolada a Rua Cândido Benício, na Praça Seca, com o trânsito todo parado, um barulho ensurdecedor de buzinas, apitos e sirenes. Estou arrumada para ir trabalhar à noite, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. De repente, a angústia e a incerteza  me apavoram e me questiono: Será que vale a pena sair de casa? Será que hoje haverá "arrastão"? Será que chegarei a tempo, saindo daqui às 16 horas?
     Se o trânsito estivesse normal, eu gastaria uns trinta  minutos. Atualmente, porém, gasto de duas a três horas para chegar ao meu trabalho. Chego sempre atrasada, cansada e com aquele humor de cão raivoso!

     Então, deixo a minha autocensura de lado, liberto o meu inconsciente e me permito sonhar... Ah! Se eu tivesse à minha disposição um helicóptero com um piloto - pagos pelo governo - que me levassem à praia pela manhã, às compras ou ao clube à tarde e ao meu trabalho à noite, trazendo-me de volta ao lar, isenta de cansaço, estresse, ruídos, calor, poeira e odores indesejáveis! Que  nos fins de semana e feriados, me levassem com minha família para a Região Serrana, Região dos Lagos, Costa Verde etc!
     Ah! Bendito seja o Governador Sérgio Cabral pela sorte que teve (enquanto não foi denunciado por essa gente invejosa) de poder olhar do alto a verdadeira Cidade Maravilhosa, durante o percurso para o trabalho e o lazer (aliás, o  úico trabalho dele é o lazer), sentindo aquele friozinho do ar condicionado que os pobres mortais desconhecem. Principalmente, aqueles que enfrentam os transportes públicos!
     Hoje, neste momento, esta cidadã que lhe escreve, declara: SIM, eu sinto inveja do Cabral, sem medo algum daquele “fogo do inferno” de que mamãe falava. Afinal, estou cobiçando algo alheio que nem é tão alheio assim. No fundo, é um pouco meu, pois pago em dia tdos meus impostos, embora revoltada. Mas, pago!
    Também, não condeno o governador, coitado! A culpa é do outro Cabral que, com tanta terra para desbravar, foi descobrir logo este lugar quente cujo nome só não é Braseiro porque, certamente, o nobre português não teve nem o tempo, nem o privilégio de sentir o sol escaldante deste lindo Brasil!
     Não quero, com isso, dizer que o governador está certo. Quero apenas mexer um pouco com os nossos humanos sentimentos. Quem de nós brasileiros, vivendo numa metrópole como o Rio de Janeiro, toda tomada pelas obras de BRTs, Trans-carioca, Trans-olímpica, Revitalização do Porto e tantas outras, não gostaria de fugir dos congestionamentos, dos assaltos e do calor insuportável? Será que dispensaríamos um transporte aéreo gratuito e enfrentaríamos todos esses incômodos, em nome da ética, da moral e dos valores que nossos pais nos ensinaram?
     Sinto-me bastante à vontade para dizer que eu, com a raiva que estou hoje, teria coragem, SIM, de fazer o mesmo! Mas, não se preocupe, amigo leitor, isso é apenas o delírio provocado pelo desespero de alguém que sente medo de enfrentar o trânsito carioca, neste fim de tarde. Alguém que, como tantas outras pessoas, não tem outra saída a não ser reclamar e gritar: SOCOOOOORRO !!! Não suporto mais o calor, as obras intermináveis, a violência e os congestionamentos desta cidade!

     Agora, deixo com você, leitor:
 
ATIRE A PRIMEIRA PEDRA QUEM NUNCA INVEJOU SÉRGIO CABRAL!

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Lídia Bantim
Enviado por Lídia Bantim em 05/12/2013
Reeditado em 25/06/2017
Código do texto: T4600083
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