CONVERSA DE BÊBADO

Naquele tempo, faz tempo, o vestibular para o curso de jornalismo era realizado de segunda à sexta, à noite. No sábado, também havia exame, na parte da manhã. Na sexta, após a conclusão da prova, nossa turma resolveu tomar umas e outras, que ninguém é de ferro. Para nossa surpresa, lá pelas tantas, chegou um dos professores que fiscalizava as provas. De onde veio, ninguém soube. Mas chegou bêbado. Sentou-se à mesa, pediu mais algumas e deitou falação. Seu sonho nada secreto: queria devolver A GAZETA aos seus tempos de glória, tarefa que se mostrou inviável.

No sábado, um colega de vestibular e copo, acabou a prova mais cedo. Antes de sair da sala, disse em alto e bom som:

-- Pessoal, vou para o bar. Até já. Boa sorte a todos.

O velho professor, completamente recuperado do porre da véspera, lhe perguntou:

-- Quer dizer que o senhor é daqueles alunos que, após as aulas e provas, vai para o boteco?

-- É verdade, professor. Mas não sou o único que bebe – ironizou o vestibulando.

O mestre não passou recibo, mentiu com convicção:

-- Se você está querendo insinuar alguma coisa, saiba que já bebi muito. Mas há anos não sei o que é colocar um gole de bebida alcoólica na boca.

E mais não disse. Seguramente, depois da prova, foi beber em outra freguesia.

Orlando Silveira
Enviado por Orlando Silveira em 05/12/2013
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