CONVERSA DE BÊBADO
Naquele tempo, faz tempo, o vestibular para o curso de jornalismo era realizado de segunda à sexta, à noite. No sábado, também havia exame, na parte da manhã. Na sexta, após a conclusão da prova, nossa turma resolveu tomar umas e outras, que ninguém é de ferro. Para nossa surpresa, lá pelas tantas, chegou um dos professores que fiscalizava as provas. De onde veio, ninguém soube. Mas chegou bêbado. Sentou-se à mesa, pediu mais algumas e deitou falação. Seu sonho nada secreto: queria devolver A GAZETA aos seus tempos de glória, tarefa que se mostrou inviável.
No sábado, um colega de vestibular e copo, acabou a prova mais cedo. Antes de sair da sala, disse em alto e bom som:
-- Pessoal, vou para o bar. Até já. Boa sorte a todos.
O velho professor, completamente recuperado do porre da véspera, lhe perguntou:
-- Quer dizer que o senhor é daqueles alunos que, após as aulas e provas, vai para o boteco?
-- É verdade, professor. Mas não sou o único que bebe – ironizou o vestibulando.
O mestre não passou recibo, mentiu com convicção:
-- Se você está querendo insinuar alguma coisa, saiba que já bebi muito. Mas há anos não sei o que é colocar um gole de bebida alcoólica na boca.
E mais não disse. Seguramente, depois da prova, foi beber em outra freguesia.