Era uma casa, ou melhor, uma mansão com muitos quartos, salas, um lindo jardim e uma piscina quase olímpica. Um elevador fazia a ligação entre os três andares. Nessa casa morava Maria. Para fugir da solidão costumava dar festas para os amigos. Todos comemoravam qualquer tipo de evento nessa casa, onde eram sempre muito bem recebidos. Naquela noite os convidados ficaram até duas da manhã. Acabada a festa Maria ficou só. Os empregados, contratados especialmente para aquele evento, se foram. Maria, que estava com a perna quebrada, pegou o elevador para chegar ao seu quarto, no terceiro andar. No meio do caminho, ele parou. Não adiantava gritar porque não seria ouvida. Lamentou não ter se lembrado de pegar o celular. Não havia faltado energia , era um defeito técnico. O quê fazer? Como iria sair de uma situação tão difícil? Tentou dormir, mas isso foi impossível no estado de angústia em que se encontrava. Sentiu como se fosse o seu fim. Morreria ali, apodreceria e ninguém se lembraria dela, até à próxima festa, marcada só para o final do mês . Sua vida toda passou por sua mente, como filme. Observou que o filme era em preto e branco, como, aliás, havia sido sua vida. Arrependeu-se de não ter amado mais, brigado mais, de não ter lutado pelo que achava importante. Sempre vivera tentando agradar aos outros, se esquecendo de si. Jurou que, se houvesse ainda alguma vida para ela, iria ser mais generosa consigo mesma. Viajaria mais, compraria mais sapatos coloridos, iria caminhar na beira da praia e faria amor muitas vezes. Clareou o dia, ela começou a sentir sede, fome e calor. Tentou fazer uma respiração para se acalmar e raciocinar. Não conseguia encontrar uma solução. Começou a suar frio. Depois de um dia inteiro, presa naquela caixa, ela desmaiou. O cachorro, um Egípcio Hound, uma das raças mais caras do mundo, já achando que algo estava errado, já que não havia recebido sua ração e sua água, começou a latir. Não sendo atendido, entrou na casa, coisa que não era seu costume. Como sua dona não respondia ele saiu correndo, pulou o muro e trouxe, quase arrastada, a primeira pessoa que encontrou. Maria, despertada pelos latidos de seu cão, um vira-lata pulguento, acordou e respirou aliviada. Tinha sido só um pesadelo. Levantou-se de sua cama e foi fazer seu café para tomá-lo com pão e manteiga. Olhou ao redor e viu que preferia viver no seu barraco, sem elevador e sem o medo de ficar presa naquela caixa.