Não era Bolo

Naquele momento tudo o que eu queria era curtir a banda tocar . A gordinha mandava clássicos dos anos cinquenta e rebolava no seu uniforme vermelho com as palavras ' El Gato ' escrita nas costas . Todo o resto da banda usava o mesmo uniforme , dividindo um palco de pouco mais de dois metros com uma porção de gente apinhada na plateia urrando quando uma das boas era tocada . Haviam duzentos litros de chopp fornecidos gratuitamente pela casa afim de embebedar o publico , um enorme bolo de chocolate branco e pratos de papel . Era o aniversario do pub , seu segundo ano de muita loucura e gente estranha entrando e saindo cambaleantes cheirando a couro e cerveja choca .Meus amigos foram engolidos pela massa que se espremia na fila do bar com canecas de alumínio no estilo da vovó . No espaço externo que dava para um bambuzal os braços dançavam mais livremente . O céu escuro da madrugada anunciava chuva , o que não afastava o calor insuportável .Em meio a esse frenesi musical essa garota chamou minha a atenção . Por duas vezes senti suas mãos descerem minhas costas ao passar por mim , acompanhada de um cabeludo de botas de couro que a guiava pelo salão segurando seu pulso direito . Os dois nunca paravam , viviam em constante movimento costurando os pequenos espaços que encontravam para atravessar até o outro lado . A jovem mulher me conquistou com sua atitude cafajeste , pois sou continuamente atraído por mulheres ordinárias de caráter duvidoso . O grande porem da noite foi que não estava afim de uma caçada . Não queria problemas , não queria brigas e tudo corria bem até o grandalhão me empurrar e quase me jogar para cima do bolo . É isso ai , pensei eu , nada de noites tranquilas , nada de cerveja gelada e diversão sadia . Tudo inevitavelmente conspira para a aporrinhação e outra noite brutal sem sentido . Era fato que jamais conseguiria com aquele cara , logo achei que sair andando como um leão acuado seria uma boa ideia , mas algo gelado e pastoso e de consistência macia encheu minha nuca . Deixe-me contar uma pequena historia sórdida . Quando criança era um perfeito tolo .Era do tipo sem popularidade e o ultimo a ser escolhido para o time . Não era um grande aluno , não agia de forma legal e as roupas que usava não eram maneiras . O idiota da classe , aguentava as aporrinhações calado o que me tornava desinteressante até mesmo para o cargo de saco de pancadas . Na época eu tinha essa grande ideia de que Deus castigaria a todos os porcos e deixaria meu rabo de fora da putaria . levei essa ideia até o ano em que acontecia o campeonato regional . Como não servia para o time fiquei na torcida , e pode parecer patético , por Alguma razão torcia para os mesmos cafajestes que me aporrinhavam . Então estava assistindo a partida sentado na grama próximo a o alambrado quando senti isso que parecia papel higiênico molhado arrebentar na minha cabeça , bem em cima dela . Plóf ! . Sempre fui o tipo de sujeito que espera tudo da vida , mas realmente não esperava por aquilo . Foi do tipo de coisa que não se espera , ainda sim fosse papel higiênico realmente . Quando numa conversa de bar falei sobre isso a um dos bêbados ele afirmou que tal coisa que se leva para o tumulo . Não sei de onde veio e de quem veio , mas me acertaram um punhado de merda bem no tampo da caixa craniana . Sinto dizer , mas não foi de cachorro ou pombo nem de elefante , foi de gente mesmo , e se tem coisa mais nojenta que fezes humanas são os próprios humanos . Desci até os banheiros e dei graças a deus por ser um daqueles que poucos dão atenção quando passa , porque tinha bem uma grande merda ali . Simplesmente lavei tudo segurando para não vomitar e torcendo para ninguém entrar . Desisti de assistir o jogo do alambrado e fiquei nas escadas tomando sol enquanto meus cabelos secavam . Depois que uma coisas dessas acontece a gente perde a fé ou coisa do tipo e se torna um Homem Gélido .E como veio de cima pensei que só poderia ser um sinal divino me dizendo : se fodeu , e foi só o começo ! Então , quando senti minha nuca se enchendo com lembranças do passado me virei , apanhei uma boa garrafa que estava sobre uma mesa e as pessoas se afastaram quando quebrei seu gargalo no chão . Hoje em dia sou bem mais notado que nos tempos de escola ,posso dizer que até degusto de certa popularidade e a popularidade transforma um imbecil num leão . O grandalhão estava bem ali , tremendo no centro do circulo que se formou em nosso entorno . Quando dei um passo a frente ele recuou e quando o chamei para briga correu , deixando sua garota ordinária para trás . Os seguranças logo apareceram , também estavam com medo e pediram para que largasse a garrafa . Larguei . Com certa delicadeza e receio me levaram para fora . Mas antes um deles , o mais baixinho e barrigudo com o braço esquerdo todo tatuado com riscos estranhos e a imagem de um homem velho de óculos , perguntou se eu não queria lavar o pescoço .

'' Tem bolo ai no seu pescoço ''

Disse ele . Quando sai até me deram duas garrafas de cerveja e uma de água . Perguntaram se eu queria um táxi . Disse que não e agradeci pelas cervejas . Meus amigos deus sabe onde estavam , me deixaram sair e desejei que se fodessem . Me sobravam quarenta minutos a pé até em casa , e foi quando dobrava a esquina que essa voz me chamou .

'' Hei ! Você ai , espera um minuto ! ''

Me virei e iluminada pelas lampadas dos postes essa mulher baixa se aproximou correndo com os saltos nas mãos .

'' Não quer uma carona ? ''

Disse ela . Era a tal garota ordinária . Lhe entreguei uma das cervejas e lhe contei toda a historia do bolo .

'' Eu não acredito nisso ? ''

Disse ela enquanto dirigia para sua casa .

'' Pode acreditar , baby , pode acreditar . ''

04/12/2013

15h54m

Dica de Livro : Mais Estranho que a Ficção

Chuck Palahniuk

Cleber Inacio
Enviado por Cleber Inacio em 04/12/2013
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