Os desenhos do Pato
Um homem desequilibrado que do seu apartamento havia começado a atirar com um rifle de caça entrou para a história da Islândia como o primeiro sujeito a ser morto pela polícia daquele país. Consternada pelo incidente, a polícia expressou suas condolências à família da vítima. A notícia correu o mundo, especialmente naqueles países em que a taxa policial de mortalidade é bem diversa, como, digamos, o Brasil. E não tardaram as comparações entre a nossa realidade e a de países mais desenvolvidos.
Coincidentemente, estou lendo uma coletânea de crônicas escritas nos anos 70 pelo Janer Cristaldo, jornalista gaúcho que estudou língua e literatura sueca na própria Estocolmo. Ora, quem viu a Suécia não deve ter visto nada muito diferente da Islândia. São ambos países nórdicos, e por isso mesmo famosos por jogarem na cara da humanidade os seus índices de desenvolvimento humano.
Aqui e ali, Cristaldo menciona aquilo que encontrou na Escandinávia: hospitais e remédios gratuitos, assim como as universidades, onde não existe vestibular, um Estado que não permite que se estude e trabalhe ao mesmo tempo, e que em caso de desemprego lhe dá um salário suficiente para comer bem, vestir-se bem, habitar bem, e ainda ter um telefone e um carro, um Estado que procura emprego para você e quando encontra vai até a sua casa avisá-lo, e que cobra dos milionários um imposto de renda que pode chegar a 85% do salário, além de publicar anualmente, para conferência de todos, um livrinho com os nomes de cada habitante e os respectivos impostos pagos.
O jornalista também descobriu que na Suécia a pornografia é menos obscena do que o Pato Donald. Isto é, a indústria do sexo é incentivada até como meio de reduzir o índice de crimes sexuais. Já o Pato Donald tem algumas cenas cortadas de seus filmes porque é um sujeito bastante agressivo, e isso sim é uma ameaça aos bons costumes do país.
Desconfio que também na Islândia os desenhos do Pato não sejam muito recomendados.