SONHO DE CONSUMO

Prof. Antônio de Oliveira

antonioliveira2011@live.com

“Imagine a casa de seus sonhos, espaçosa, perto do verde e ao lado do trabalho.” “Qualidade de vida e sofisticação acima dos padrões.” “Tudo o que você imagina encontrar no lugar de seus sonhos: localização privilegiada, muito conforto, requinte, lazer, janelas para um paraíso de deslumbrantes paisagens.”

O preço do apartamento não inclui a decoração interna. Mas isso não fica claro no imaginário do interessado, deslumbrado com o apartamento modelo. Num ambiente de classe alta, uma empresa lançava o anzol com esta isca: “Fique trancado no quarto num dos lugares mais lindos do mundo.” Ficar trancado e ainda ter de pagar caro por isso?

Lança-se um modelo de automóvel novinho em folha com uma modelo mais estonteante do que o próprio carro. Estonteado, o comprador fecha o negócio, a moça fatura o dela e, num apagão, sai de cena. O comprador leva apenas o carro. Miragem. Feitiço. Encanto de sereia. Armadilha. Por se tratar, no caso, de classe social alta, mais do que o conforto que o carro oferece, o marketing explora o sonho de consumo milionário e exibicionista. Esse tipo de rede é para pegar peixes graúdos. Para peixes miúdos, e para atiçar igualmente o consumismo, atrativos outros. Propaganda comercial se faz para pegar o nosso dinheiro; propaganda oficial se faz com o nosso dinheiro. No mais, a sociedade de consumo nos marca, a todos, na testa: classe A, classe B, classe C, classe D... de acordo com o limite disponível no cartão de crédito.

Tudo parece se resolver de maneira fácil desde que se tenha dinheiro. Enquanto isso, o produto família, e família feliz, de qualidade, que é o conteúdo que justificaria a compra de um apartamento, mesmo de cobertura, ou de um carro confortável, nunca está à venda, pois é um produto de lar, não de residência nem de domicílio. De poder de compreensão, e não de poder de compra. De amor, não de competição. De Casimiro de Abreu: "Eis meu lar, minha casa, meus amores..."