Está na Bíblia e pronto, o martelo está batido

Instigar valores religiosos é mexer com afetividade. Os fieis ficam como abelhas na colmeia: assanhados, tempestivos, ameaçados por segundos seguidos. Escrevo isso a partir do real, do que está presente e posto na nossa sociedade, uma legião e várias legiões de seguidores, defensores de pensamentos comuns, verdades absolutas invioláveis, divinizadas, que não podem ser contradito, está na Bíblia e pronto, o martelo está batido.

Estamos diante de uma guerra de convicções, numa guerra desumana em que elementos tidos como sacros são as principais armas: o que está nos livros canônicos, escrito para um outro povo, de uma outra cultura, num determinado espaço geográfico passou a ser, por imposição dos grandes impérios antigos, em especial o Romano, e nas Américas, pela colonização lusitana, o eixo norteador para afinação das relações sociais, convivência comunitária e diretrizes construtivas de vidas radiografadas em espaços comuns.

Mas o que é a sociedade afinal? Para quem ela existe?

A princípio parece fácil responder porque alguns teóricos das ciências humanas já ousaram conceituar - conjunto de indivíduos socializadores de costumes, crenças, linguagem, atitudes, hábitos, ritos, afetos, pensamentos, enfim, seres que compartilham, interagem, que deveriam ser solidários para a construção do bem comum.

Muita coisa incomoda nos dias de hoje porque não serve para a prática desse conceito de sociedade, daí a necessidade da construção de um novo, em grego, Kanóni, que agregue as novas possibilidades e intervenções da vida cotidiana, leis que legitimem o homem de hoje, a mulher de hoje, o ser humana merecedor de respeito, dignidade, direito e deveres, longe das amarras religiosas. Digo isso porque as organizações religiosas maquiam seus preconceitos, seus desafetos em nome de uma fé, de um deus, de uma verdade imposta como absoluta, fato facilmente notado pelos discursos da bancada de políticos ditos cristãos veiculados pelos meios de comunicação de massa, violando o direito de liberdade de cada um, tirando a legitimidade do princípio da igualdade, além de trucidar os direitos fundamentais do indivíduo/sujeito social.

Necessito de um país realmente laico que não prive a minha liberdade de dizer, de me expressar, de pensar longe de amarras que me coloquem venda nos olhos, algemas nas mãos e coleira no pescoço. Não digo com isso que sou ateu, não é isso, até tenho fé e creio, não num deus engessado, mapeado por homens: patriarcal, autoritário, que me coloca a prova vinte e quatro horas, egoísta ao ponto de querer atenção ininterrupta, castrador de desejos, sonhos, atitudes e castigador. Numa entidade surreal invisível aos meus olhos que me quer encaixotado a um modelo de sociedade separatista, sexista, ortodoxa, prepotente, excludente e visionária de um mundo que é além do real, da condição humana e busca tratar os humanos de forma desumana.

Melhor mesmo é imaginar, no meio de nós, o ser humanizado de discurso convincente: Para que todos tenham vida plenamente. Ter vida plena é se sentir satisfeito na sua dimensão biológica, afetiva, sentimental, política, psicológica... Por respeito à diversidade!!!

( Marcus Vinicius)